A emoção que transbordava nos olhos de Ângelo Ademir Mezzari durante boa parte de sua ordenação episcopal hoje (19), no Santuário Sagrado Coração Misericordioso de Jesus SCMJ, é reflexo de uma vida inteira dedicada ao serviço pastoral. Horas mais cedo, ainda em ritmo de preparação, o ainda Monsenhor Ângelo, de fala serena e olhar profundo, conversava e cumprimentava a todas equipes de trabalho no Santuário. Apesar da calma, característica de sua personalidade, o apertar de suas próprias mãos e o movimento da cabeça – que parecia buscar alguém no templo ainda vazio – denunciavam a sua ansiedade.

Questionado sobre como estava se sentindo, desconversou com um doce e consentido: “O Espírito Santo cuidará de tudo”.

Momentos antes da cerimonia oficial ser iniciada, acompanhado do Cardeal Dom Odilo Sherer, Arcebispo de São Paulo, Dom Jacinto Inácio Flach, bispo da Diocese de Criciúma e Dom Rubens Sevilha, bispo de Bauru (SP), Ângelo Mezzari adentrou ao Santuário para ser acolhido pelos presentes. Ao visitar o Sacrário e prestar adoração ao Santíssimo Sacramento, Ângelo deixou as lágrimas rolarem, da mesma forma quando rolaram quando o Rito da Ordenação Episcopal foi acontecendo. “Agradeço a minha mãe, e presto meu silêncio ao meu falecido pai”, disse com a voz embargada. “Desde o seio de minha família, cristã, aprendi o caminho da fé e da comunidade eclesial, nela senti o chamado do Senhor, e meus pais foram promotores vocacionais ao levar-me para o Seminário, com 12 anos e apenas uma ‘muda’ de roupa. Fui respondendo com liberdade e gratuidade à vocação, e me consagrei a Deus pelos votos, como religioso, e recebi o ministério presbiteral”, enfatizou.

Sobre sua congregação, Rogacionistas do Coração de Jesus – RCJ, Ângelo Mezzari fez questão de pontuar a importância dela em seu chamado. “Quero dizer que este mandato do Senhor Jesus, o Rogate, continuará ressoando no meu coração e na Igreja Particular de São Paulo, onde estarei. Pela intercessão de Santo Aníbal Maria Di Francia, apóstolo da oração pelas vocações, Fundador de duas Congregações Religiosas, os Rogacionistas e as Filhas do Divino Zelo, quero continuar sendo um bom e santo operário da messe, anunciando e testemunhando sempre o que Jesus pediu”, disse.

O Reitor do Santuário SCMJ, padre Antonio Vander da Silva, agradecendo a oportunidade de acolher a Ordenação Episcopal disse que “quis Deus nos dar a graça de vivenciar tudo isso em meio a pandemia”. Ao agora Bispo, Dom Ângelo Mezzari, o reitor desejou que ele leve ao mundo o jeito catarinense de ser e que o povo de São Paulo (onde o novo bispo irá trabalhar) aproveite o jeito de ser e viver que ele traz no coração. “As pessoas que encontraram Dom Ângelo nos últimos dias tiveram a mesma impressão dele: é uma pessoa serena, amável, que transmite paz. Ele fez, e fará – eu tenho certeza – muito bem para a nossa Diocese e para o mundo”, afirmou o reitor.

Dom Ângelo Mezzari tomará posse do ofício de Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo no dia 4 de outubro, em missa na Catedral da Sé, às 11h.

Histórico:

Ângelo Mezzari nasceu Sanga do Engenho, Forquilhinha (SC) em 2 de abril de 1957. Filho de Antonio Mezzari (já falecido) e Maria Etelvina Ronchi Mezzari, é o mais velho de sete irmãos. O desejo de ser padre manifestou-se desde pequeno. Ainda com 12 anos, em 1969, ingressou no Seminário Rogacionista Pio XII, em Criciúma (SC) onde concluiu o ensino fundamental e médio. Quando se preparava para a etapa do noviciado religioso, na época da ditadura militar no Brasil, aos 18 anos, foi obrigado a fazer o serviço militar nas unidades de infantaria do exército, em Tubarão e Joinville (SC).

Em 1981, já em São Paulo (SP), professou os primeiros votos religiosos, e os votos perpétuos em janeiro de 1984, em Criciúma. Em sua terra natal voltou para que fosse ordenado sacerdote, em dezembro de 1984. Ângelo Mezzari é formado em filosofia e teologia, possui mestrado na área de Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Católica Nossa Senhora da Assunção, PUC-SP. É também formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo.

Entre as funções que ocupou na Congregação Rogacionista e a serviço da Igreja estão as de formador, diretor da Revista Rogate, diretor presidente do Instituto de Pastoral Vocacional, além de províncial geral da Província São Lucas por dois mandatos (2002-2010) e superior geral ente os anos de 2010 e 2016, quando residiu em Roma. Entre 1990 e 2010, foi colaborador e membro do Grupo de Assessoria Vocacional e contribuiu na realização dos Congressos Vocacionais do Brasil. Até agosto de 2020 atuou como superior da Comunidade Religiosa Rogacionista em Bauru (SP) e pároco da paróquia Nossa Senhora das Graças. Na Diocese, foi membro do Colégio de Consultores de 2016 a 2018, além de ter sido membro do Conselho de Presbíteros de sua nomeação episcopal.

Rogate Ergo: Conheça o Brasão e o Lema da ordenação de Dom Ângelo Mezzari

Três campos dominam o espaço: o amarelo, o azul e o branco. O amarelo corresponde ao Divino, ao que é Sagrado, graça de Deus e de sua ação em nossa vida quando agimos em seu nome. O azul corresponde ao humano – humus, o terreno sagrado onde Deus habita pela ação do Espírito Santo (de Deus). O azul também se refere as águas geradoras de vida: as águas do útero materno onde somos envolvidos e protegidos e as águas do Batismo, onde nascemos para Deus e para as coisas. As águas envolvem todo o trabalho ministerial, que purifica e abençoa a vida cristã e, também, a do bispo. O branco é sinal da abertura que damos a Deus e ao seu serviço do seu Reino. É a oração diária ao Senhor da Messe por mais operários. Está no centro, assim como, nosso coração que tem Deus como primazia e centro e se expande, transborda para o serviço amoroso. É ele quemencaminha nosso coração para amar e servir.

O Bispo: É Rogacionista, todos esses três campos são dominados pelos símbolos que rezam e clamam ao Senhor da Messe pelas vocações.

A Cruz: É o máximo do Amor que brota do coração de Deus e que deve brotar também do coração do bispo. Coração que se esvazia de amor-doação. Sinal do ministério. “O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas”.

Os círculos: São o sinal da Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), do ministério que envolve todo ser. É dela que brota o amor, a força e a coragem para assumir com fervor ao serviço da Messe. Os círculos também remetem as três virtudes teologais: Fé, esperança e a caridade. São infundidas no coração humano com a graça santificante, tornam-nos capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir do Cristão.

Alfa e Ômega: Jesus é tudo para todos e a missão do bispo não pode ser outra – doação total. Nossa missão deve ser começar e direcionar para Ele – O princípio e o fim.

Roda de Carvão: Carvão é aquele que queima e aquece o coração serviçal do bispo pela ação do Espírito Santo. A roda de carvão refere-se também as origens familiares do Bispo.

O Coração: Torna o bispo decidido para colocar toda a sua vida a serviço do povo a ele confiado. É no coração do Bispo que o coração de Deus se derrama em amor e doação. Deus amando e se doando pelo coração e serviço episcopal.

O Trigo: Lembra o pão de cada dia. O bispo trabalha para que todos tenham o pão eucarístico, mas também luta pela justiça social para que haja pão na vida e na mesa de todos.

As águas: A água é a fonte geradora de vida. O arroz, da origem familiar e, o trigo sinal da colheita do Senhor da messe, são banhados pela águas. Jesus é a água viva que a tudo e a todos fertiliza e purifica.

O Lema: “ROGATE ERGO” – extraído da Bíblia, no livro de Mateus (9,38-39), indica todo esse serviço da Igreja como obra de um outro e não tarefa nossa. Com certeza, assim, a missão será um trabalho fecundo. “Rogai ao Senhor da messe, para que envie trabalhadores para sua messe”. A sensibilidade de Jesus diante da multidão é a mesma de um bispo Rogacionista. Esse mesmo Senhor envia-nos em missão de paz, ungidos pelo sopro de Seu espírito. “A messe é grande, mas poucos são os operários”. Como pessoa de oração, pelo testemunho de vida e o zelo por este mandamento de Jesus possa pelo seu ministério episcopal inspirar a muitos outros corações a responder seu sim ao Senhor da Messe. “A oração é, por natureza, dinâmica. Se não move, não é a oração”.

Entenda a Nomeação

Papa Francisco, por meio da Bula Papal, nomeou, em julho de 2020, Padre Ângelo Mezzari como Bispo Titular de Fiorentino e auxiliar na Arquidiocese de São Paulo (SP). Até então, Ângelo era pároco na Paróquia “Nossa Senhora das Graças” na cidade de Bauru (SP).

Dom Ângelo Mezzari foi ordenado no Santuário Sagrado Coração Misericordioso de Jesus, em Içara, e parte da Diocese de Criciúma (SC) no dia de hoje (19) em cerimônia celebrada pelos bispos ordenantes Cardeal Odilio Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, Dom Jacinto Inácio Flach, bispo da Diocese de Criciúma e Dom Rubens Sevilha, bispo de Bauru (SP), fechada apenas para o clero, familiares e convidados.

Do lado de fora do Santuário SCMJ uma estrutura foi montada para que os féis pudessem acompanhar a cerimônia, respeitando todas as normas exigidas pelos órgãos de saúde pública e respeitando o devido distanciamento social por conta da pandemia do novo coronavírus.

Dom Ângelo Mezzari tomará posse do ofício de Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo no dia 4 de outubro, em missa na Catedral da Sé, às 11h.

Colaboração: Comunicação Santuário SCMJ