A Voz do Brasil surgiu em 1935 para dar visibilidade aos trabalhos do governo de Getúlio Vargas, já intitulado como Programa Nacional e A Hora do Brasil. No decorrer de 87 anos, o programa passou por diversas alterações e flexibilizações, mas nunca deixando de levar a informação ponto a ponto sobre o Poder Executivo, Judiciário e Legislativo durante uma hora em todas as rádios brasileiras. Uma das personalidades que deu voz ao programa durante vários anos foi o jornalista, repórter e apresentador Paulo César Viana Otaran. Natural de Alegrete, no Rio Grande do Sul, considera-se catarinense por ter chegado ao estado ainda na adolescência. Paulo se aposentou da Voz do Brasil no último ano, mas continua ligado como servidor público federal, atuando em atos pontuais no Palácio do Planalto e no tradicional desfile-cívico no dia 7 de setembro.

O apresentador do programa Ponto de Encontro, Jair De Ávila, conversou com o jornalista Paulo César sobre o seu trabalho desenvolvido como locutor da Voz do Brasil. Otaran contou sobre a sua experiência no rádio, como é a produção do programa e sobre o que é primordial para manter milhões de brasileiros informados durante todos os dias. Ouça na íntegra a conversa:

 

Paulo chegou a Criciúma aos 16 anos já trabalhando com rádio. Antes disso, aos 13 anos, já apresentava eventos e atividades na escola por conta da sua desenvoltura. Durante esta época se dedicava e treinava para conseguir entrar em uma rádio, gravando disquetes e encaminhando a equipe da Rádio Alegrete. Paulo conta que o gerente informou que não podia contratar ele justamente por ser muito novo ainda. Mesmo assim, o responsável pela rádio avisou para que continuasse treinando. O locutor relata que isso o marcou muito, porque ele se dedicava demais como aprendiz de repórter, tendo até perdido o ano letivo na época por conta disso.

Em suas tardes de adolescência, Paulo costumava pegar recipientes de iogurte e brincar com eles como se fossem fones de ouvido para treinar. Ligava também para as rádios para pedir músicas, cada vez informando um nome diferente, em um orelhão, deixando o gravador em casa ao lado do rádio para depois se escutar e saber como estava a sua voz. Certa vez, uma rádio que estava abrindo na cidade lançou um concurso de locutores e após muita insistência, Paulo ligou para emissora para participar. “Eu lembro que ela (a secretária) disse o seguinte ao passar o telefone para ele (dono da emissora): ‘O Auri, tem um homem para falar contigo, mas com um vozeirão’. E não era um homem, era um menino, tinha 16 anos”, relata.

Paulo ingressou nesta emissora e permaneceu lá durante nove meses. Durante este tempo, o seu programa, de quatro horas e com três patrocinadores, tornou-se de três horas e com 18 patrocinadores, sendo o programa de maior audiência da região na época. Foi a partir deste trabalho que as suas experiências foram se expandindo e Paulo viu que era o momento de partir para novas jornadas. Por isso se considera catarinense e criciumense, já que permaneceu 16 anos no Alegrete e 26 anos em Criciúma. Trabalhou nas rádios criciumenses, como a Eldorado, durante muito tempo e, em 2007, foi a Brasília representar todas as rádios catarinenses.

O locutor esteve ao lado de uma das vozes mais antigas do programa, o de Antuônni Haddad, que ancorou por 47 anos. Paulo comentou que dois episódios foram marcantes durante a sua locução na Voz do Brasil. O primeiro foi em seu dia de estreia, em 6 de maio de 2007, quando noticiou na manchete do programa sobre a morte do deputado federal Enéas Carneiro. O segundo foi o acidente do voo da TAM 3054, em 17 de julho de 2007. Paulo também frisa que mesmo durante essas situações, o locutor não pode errar, porque não é um programa gravado. Manter a seriedade, até mesmo com os convidados, é primordial. Além disso, a sincronia de vozes e falas com o outro locutor é muito importante.

O seu aposento veio no ano passado, em 2021. Otaran conta que há cinco anos montou sua própria agência de notícias chamada Conteúdo Brasil. A agência disponibiliza notícias em forma de boletins, de maneira direta e informativa sobre política e economia. O que foi começando com poucas emissoras associadas, hoje atinge mais de 5 mil rádios em todo o país. Conforme foi crescendo, Paulo viu a necessidade de contratar uma agência de publicidade para alavancar ainda mais o negócio, sendo que hoje a Conteúdo Brasil é dona de três rádios. “Eu não queria ter o fim que teve o Antuônni Haddad, que em alguns momentos a gente precisou parar, deixar de fazer ao vivo e teve que gravar, porque o carrinho do maxilar não segurava mais, e ele insistia em continuar fazendo”, relata sobre o motivo que o fez deixar A Voz do Brasil. Por isso, Paulo decidiu permanecer com a sua própria agência do que continuar com o programa, também dando oportunidade a outras vozes e pessoas.

O famoso jargão “Em Brasília, 19 horas” caiu por terra há alguns anos, quando o horário foi flexibilizado, podendo ser transmitido entre 19 e 22 horas. Outra mudança perceptível foi as alterações na trilha sonora, onde “O Guarani” deu espaço para novas roupagens. Além disso, as informações da Voz do Brasil podem ser encontradas na internet, como no YouTube, em podcasts e em outras plataformas.