Há algumas semanas a imprensa mundial vem alertando sobre os casos de varíola dos macacos em vários países e muitas pessoas estão preocupadas com a doença. Porém, apesar de ser um nome novo nas mídias e, até então, pouco conhecido, a varíola dos macacos existe desde os anos 50 nos países da África, onde a doença é endêmica. O Monkeypox virus foi descoberto pela primeira vez em 1958, quando foi identificado surtos da doença em macacos usados para pesquisas científicas. O primeiro caso em humanos foi registrado em 1970, na República Democrática do Congo. Nos anos 2000, os Estados Unidos registraram um surto da doença, mas, felizmente, nenhuma morte foi registrada.

De acordo com o médico Infectologista da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (DIVE/SC), Fábio Gaudenzi de Faria, as atuais pesquisas buscam encontrar o porquê dos surtos da doença estarem ocorrendo agora em vários países. “O macaco não é o principal hospedeiro dele. Outros roedores, esquilos, na floresta, são mais reconhecidos como os principais transmissores. Então, o ser humano, acidentalmente, quando tem contato com esses animais em área de mata do continente africano acaba se infectando e daí pode ocorrer essas transmissões entre seres humanos”, explica Faria.

É importante ressaltar que a varíola dos macacos não é a mesma que a varíola humana, que já foi erradicada há mais de 40 anos através das campanhas de vacinação. A varíola humana era muito mais transmissível do que a dos macacos. O infectologista Fábio ressalta também que a varíola dos macacos apresenta casos mais leves, além de uma evolução benigna comparada a varíola humana. O programa Ponto de Encontro abordou mais detalhes sobre o vírus, causas, sintomas e características em entrevista com o médico da Dive, o doutor Fábio. Confira a participação na íntegra:

 

Os sintomas da varíola dos macacos podem variar entre dor de cabeça, dores no corpo e febre, o que podem indicar outro tipo de problema, como uma gripe. No entanto, a varíola dos macacos desenvolve manchas vermelhas, como bolinhas, no rosto e corpo da pessoa. Conforme Faria, é importante que a pessoa busque uma unidade de saúde para verificar a possibilidade de estar contaminada com a doença. Os sintomas podem ser confundidos com outras doenças, como a catapora, por exemplo, por isso é necessário buscar um diagnóstico.

Até o momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou 257 casos de varíola dos macacos em 23 países não endêmicos. Conforme o balanço divulgado, os casos são de pessoas que não viajaram para a África, onde existem 120 casos suspeitos. No Brasil, existem três casos suspeitos da varíola dos macacos, um no Ceará, um em Santa Catarina e outro no Rio Grande do Sul. No estado catarinense, o caso suspeito é de uma mulher de 27 anos, moradora de Dionísio Cerqueira com registro de internação hospitalar. A paciente iniciou com os sintomas na terça-feira passada, no dia 24. Ainda não se tem o resultado de confirmação do exame.

Fábio Gaudenzi, médico infectologista da Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive). Foto: Agência ALESC

Além dos animais, a transmissão acontece entre humanos que convivem juntos diariamente. Fábio explica que a contaminação pode ocorrer de pessoa para pessoa, como por secreções respiratórias ou feridas da pessoa infectada. Além disso, a infecção pode acontecer também com o contato de materiais contaminados por fluidos ou feridas, como nas roupas e lençóis. O especialista ainda ressalta que cuidados simples de higiene podem ser suficientes para evitar mais casos da varíola dos macacos.

Fábio esclarece que existe uma proteção cruzada com a vacina da varíola humana, aplicada no Brasil até os anos 80, quando a doença foi declarada erradicada. “As pessoas que nasceram nesse período e que receberam essa vacina têm uma taxa de proteção cruzada, em torno de 80 a 85%. Então significa que as pessoas que já receberam essa vacina estariam protegidas contra a Monkeypox”, comenta. Além disso, o especialista ressalta que as vacinas contra a varíola dos macacos já estavam em desenvolvimento há algum tempo, o que possibilita que uma campanha de vacinação seja promovida caso haja o aumento dos casos.