Que o brasileiro é criativo em adaptar comidas e gostos culinários de outros países isso é fato. Prova disso é a pizza. Originária da Itália, a pizza está no gosto de muitas pessoas do Brasil todo. É por isso que a jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora de História da Alimentação, Flávia G. Pinho, lançou o livro “Uma Fatia da Itália”. Na obra, Flávia relembra a chegada da receita italiana em terras brasileiras, o processo de conquista do paladar e as adaptações feitas por pizzaiolos do país. Em memória ao Dia Nacional da Pizza, lembrado neste domingo, dia 10, o programa Ponto de Encontro abordou sobre a história da pizza em entrevista com a jornalista Flávia. Confira na íntegra:

 

Flávia explica que passou três anos pesquisando sobre o assunto do porquê a pizza assumiu uma identidade tão brasileira. “Não é raro a gente ouvir as pessoas comentando que a pizza brasileira é melhor do que a italiana, não é? Tem gente que visita a Itália, come a pizza de lá e chega dizendo que a nossa é a melhor, e eu queria entender”, comenta. Conforme a especialista, o estado de São Paulo foi a principal porta de entrada da pizza no Brasil.

“É muito curioso entender como a gente chegou a essa receita que tem a nossa cara, que é a pizza paulistana. Ela tem uma identidade muito própria, ela tem uma massa fininha, tem uma cobertura muito generosa com muita mussarela e muitos outros ingredientes misturados em cima. É assim que o paulistano gosta, mas ao longo do tempo a gente também foi incorporando outros estilos”, afirma.

A autora conta que, inicialmente, a pizza era consumida pela população mais pobre da Itália, especialmente a classe operária, sendo que a pizza demorou a chegar nas pessoas mais ricas. “A pizza era comida de rua mesmo, de portas de fábrica. Se comia inclusive desde manhã cedo, no café da manhã, por ser mais barato, por matar a fome, uma comida de sustância como a gente diz, e daí dessa comida de rua é que ela foi evoluindo para uma comida de casas”, relata Flávia. A especialista comenta que foi com o tempo que o alimento virou um símbolo de reunir a família em volta da mesa e comer pizza, tornando-se uma refeição vendida em estabelecimentos.

“Até o primeiro terço do século XX, mesmo na Itália, o hábito de comer pizza permaneceu praticamente restrito a Nápoles – para se ter uma ideia, a primeira pizzaria de Milão foi inaugurada somente em 1929.” (Uma Fatia da Itália, pg. 19)

A pizza desembarcou por aqui na década de 1910, com a vinda dos italianos do Sul que, diferentemente dos moradores da região Norte, preferiam a vida na cidade ao invés do campo. Longe de casa, faziam pizzas de forma improvisada para matar a saudade da comida italiana. “Os imigrantes italianos trouxeram na memória as receitas das pizzas que eles comiam lá no Sul da Itália, mas pela dificuldade de se obter os ingredientes, a gente tinha uma farinha de trigo muito ruim no Brasil no começo do século 20, essa pizza foi se modificando, e aí a gente chegou nessa pizza clássica que é o que a gente costuma chamar de pizza paulistana”, relata. Hoje, a pizza é um dos principais lanches pedidos por delivery na maioria das casas de brasileiros.

Com a pandemia, o setor permaneceu com bons resultados comparado a outros segmentos da gastronomia. Já é muito antigo esse hábito de pedir pizza em casa, na minha pesquisa eu descobri que ele coincide, mais ou menos, ali com a chegada do vídeo cassete na casa das pessoas, que fez com que a gente começasse a ter mais lazer dentro de casa do que fora”, comenta Flávia.

O livro Uma Fatia da Itália pode ser adquirido acessando aqui. 

Sobre a autora

Flávia G. Pinho é jornalista especializada em gastronomia e pesquisadora de História da Alimentação. Também é autora dos livros “Onde Tem? – Roteiro de compras gastronômicas em São Paulo e arredores”, “Due Cuochi – Uma década de boa mesa”, “Geleia e muito mais – A Queensberry, suas histórias e receitas” e “Farabbud – Uma história”.