A ansiedade e o medo de conhecer o novo, o reencontro com os colegas ou fazer novas amizades e o período distante da família. Todos esses fatores são comuns na época de volta às aulas, principalmente quando se está na infância. Apesar de serem sentimentos já conhecidos, a família deve ficar atenta ao comportamento dos filhos. De acordo com o psicólogo Alex Cambruzzi, quanto mais uma criança conhece e circula pelo ambiente escolar, maior a probabilidade de a adaptação ser menos sofrível.

Para o especialista, a sensação de desconforto para a criança é considerada natural até certo ponto. Por isso, é comum que muitas crianças não queiram se separar da família e ir para a escola nos primeiros dias, chorando quando o responsável vai embora do local. “Porém, quando o sofrimento é excessivo e recorrente, essas duas palavras precisam ficar bem demarcadas nas mentes dos educadores e dos pais, isso pode ser o que a gente classifica como uma ansiedade de separação”, ressalta o psicólogo.

Conforme Alex, na ansiedade de separação, a criança reluta ao ficar longe de uma figura importante, seja o pai ou a mãe. “Ela exagera no sofrimento, ela gruda nas pernas dos cuidadores, ela fica parecendo, às vezes, uma sombra do adulto, ela não consegue se desvencilhar daquele adulto, ela tem um medo elevado de ficar sozinha, de que algo possa acontecer com aquela figura de apego”, explica. “Essa aflição exagerada e repetitiva é um sofrimento patológico, então, esse sofrimento precisa de atenção psicológica”, complementa Cambruzzi.

Além do medo de se separar de um familiar, o psicólogo frisa que a criança apresenta outros sinais. Um desses pontos é não demonstrar fluidez emocional, ou seja, é comum que a criança sofra por um tempo, se distraía na escola e depois volte a relembrar e chorar novamente. “Agora, quando não tem essa fluidez e quando é muito exagerado, a gente já tem ali um primeiro sinal de que algo não está legal”, ressalta Alex.

Alguns outros sinais também indicam a necessidade de procurar atendimento especializado. “Quando a gente tem sinais de isolamento, a presença de muita ansiedade, sintomas físicos, como por exemplo, a dor de cabeça frequente, dor de barriga, a náusea, agressividade, a presença da angústia, desse medo de que possa acontecer alguma coisa com essa figura de apego, com o pai ou a mãe. Se a gente está notando em casa uma alteração significativa no padrão de sono, passou a dormir mais, passou a dormir menos, está tendo muito pesadelo, se tem padrão de alimentação, quando não sabe sobre o paradeiro daquela figura de apego ela não consegue se distrair o tempo todo, se ela quer fugir a todo custo daquele local, tudo isso são sinais que requerem atenção”, comenta.

O especialista ainda frisa que a avaliação da criança precisa acontecer entre a família e a escola. O assunto foi destaque em entrevista no programa Ponto de Encontro com o psicólogo Alex. Ouça na íntegra e entenda mais:

 

Cambruzzi ainda reforça que a sensação de pertencimento é fundamental no desenvolvimento da criança. “Todos nós precisamos dessa sensação, essa sensação de pertencermos a um lugar, a um trabalho, a um local onde a gente estuda, a uma comunidade. Ela precisa sentir essa sensação de que ela faz parte daquela escola”, comenta. Além disso, o psicólogo também evidencia a postura da família frente à comunidade escolar. “Se você não está em acordo com alguma condução que a escola está tendo, conversa em particular com essa equipe, mas não na frente da criança, porque a criança precisa ver a família e a escola como um único time, não é uma competição para ver quem ganha, para ver quem fica com a criança. É um momento em que nós temos que estar unidos”, acrescenta.

Além do papel família e escola, os pais devem incentivar os filhos nesse período de adaptação. “Ao invés de você perguntar se ela sentiu naquele dia saudade de você, pergunta o que ela fez, peça para ela lhe ensinar o que ela aprendeu naquele dia. Se ela aprendeu uma música, canta com ela, demonstre que você está super empolgado em saber sobre esse dia que ela vivenciou lá na escola e vibra com ela, com cada conquista, cada evolução que essa criança alcançou. É uma etapa importantíssima do desenvolvimento infantil, social, psicológico e da saúde mental. Nós precisamos de interação social, as escolas são uma grande ferramenta na nossa sociedade de geração de tolerância, conexão e de fazer com que as pessoas desenvolvam competências emocionais”, frisa Cambruzzi.