Assim como qualquer outra forma de comunicação, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) possui as suas particularidades. De acordo com o professor Ramon Silva da Cunha, especialista da área há 20 anos, a língua possui a sua própria estrutura de gramática de fala. “Você aprende os sinais, depois você aprende a elaborar as frases dentro da gramática, aí você vai aprendendo a conversação, o diálogo. Por etapas, você vai conseguindo se comunicar em língua de sinais, mas sempre começa ali com os verbos, que é muito importante saber os verbos para se comunicar, os cumprimentos, é de suma importância para você ter um contato com o surdo”, destaca.

Para o especialista, falar também é comunicação. “Falar em português está certo e falar em Libras também está certo. É um termo correto que a gente utiliza dentro dessas nomenclaturas da Língua Brasileira de Sinais”, comenta. Essa quarta-feira, dia 24, foi lembrada por ser o Dia Nacional da Libras. A importância da data foi destacada em entrevista no Ponto de Encontro com o professor Ramon. Ouça na íntegra:

 

Segundo Ramon, a educação de surdos foi feita a partir da oralização por muitos anos em todo o mundo. “Em 1880, no Congresso de Milão, eles obrigaram os surdos apenas a falar e não utilizar a língua de sinais. Com o tempo, o Brasil também adotou isso, lá em 1911, através do Instituto Nacional de Educação de Surdos. Então, isso foi se prolongando durante muitos anos, essa oralização, essa obrigatoriedade, essa imposição que o surdo tinha de só falar a língua portuguesa, de oralizar, de emitir som e de não fazer sinais. Em algum momento da história, se transformou para a língua de sinais juntamente com a fala, que é o que se chama de comunicação total, ali nos anos 70, 80. E nos anos 90, que não faz muito tempo, começou, sim, essa parte da língua de sinais mesmo, do ensino da língua de sinais, e isso foi se fortalecendo”, explica o professor sobre a história da Libras.

Foi a partir de 1993 que foi criada a sigla Libras. “Não é linguagem, não é língua de mudo, não é língua de surdo, é Língua Brasileira de Sinais, ou Língua de Sinais Brasileira”, afirma. “Por muito tempo, os surdos sofreram, a palavra é sofreram mesmo, na educação de surdos, pois obrigavam eles a falar, oralizar, se expressar somente na fala, sendo que eles não têm o poder de audição. ‘Ah, mas usam aparelho’, ‘Ah, mas fazem implante coclear’. O aparelho, ele serve, claro, mas para poder entender os sinais de alerta, como buzina, coisas que têm um barulho mais alto. Mas a Libras faz parte da cultura e da identidade dos surdos”, acrescenta Ramon.

O professor também salienta que ainda existem muitos mitos sobre a surdez. “Todo surdo é mudo? Não, ele não é mudo, não, ele emite som. Se você belisca um surdo, por exemplo, ele vai emitir som. As cordas vocais de um surdo são intactas, raramente ele vai ser mudo. A mudez é muito a ausência de som”, explica. “Eu acho que é bem importante a gente entender que o surdo é uma pessoa igual a qualquer um de nós, porém, ele fala uma outra língua, só isso”, complementa. Para Ramon, a sociedade deve valorizar mais a Libras, o que garantirá com que o surdo seja bem atendido em todas as áreas.