Morando na Ucrânia há três anos, o estudante brasileiro Rony de Moura enfrentou nos últimos dias uma realidade de caos e desespero. Vivendo em Kiev, capital ucraniana, o acadêmico de medicina viu em poucas horas seu curso ser interrompido e o país se tornar um verdadeiro cenário de guerra. Natural de Niquelândia, município em Goiás, Rony não imaginou que acordaria em uma situação de conflito. “Pesadelo é uma palavra muito fraca para descrever o que tá acontecendo agora. Tem um mês mais ou menos que eu estava recebendo mensagens de alguns jornalistas que queriam algum tipo de entrevista. Eu sempre fui bastante solidário e tentei proporcionar o máximo que eu pude de informação. E em todas as entrevistas que eu dava, eu relatava um ar de não, não vai acontecer, não haverá uma guerra, eu tô aqui dentro, e o que vejo é que não haverá de fato um confronto. E quando começou, eu acordei uma bela manhã, e quando olhei meu celular tava cheio de conversas, tá acontecendo a guerra. Na hora que acordei, falei caramba gente, realmente está acontecendo e foi surreal”, relata o brasileiro em entrevista ao programa Ponto de Encontro.

Rony falou ainda sobre a situação dramática enfrentada nos supermercados com filas e desabastecimento. “Sábado foi o último dia que eu fui ao supermercado. A cena que eu vi era deplorante. Sem abastecimento, as pessoas correndo atrás de pegar o máximo que puder para levar as suas famílias.  E, o que vi, foi algo incrível, é incrível, não no sentido positivo da palavra. É algo que vai ficar o resto da minha vida na cabeça, essas imagens”, lamentou o estudante.

Confira o depoimento completo abaixo:

 

Devido ao agravamento da situação na área, Rony de Moura, juntamente com mais três brasileiros, conseguiram deixar a capital Kiev ontem, dia 1º de março. Após 13 horas rodando de carro e devido ao congestionamento na rodovia, os brasileiros tiveram que interromper a viagem na cidade de Ternopil. Durante a parada, foi oferecido a eles abrigo e comida. Por volta de 8h desta quarta-feira (2), no horário local, 3h de Brasília (DF), eles retomaram a viagem para Lviv, no Oeste do país, chegando ao destino por volta de 12h30 (7h30 no horário de Brasília). “Nossa viagem de Kiev para Lviv começou ontem, às oito horas da manhã. Chegamos hoje por volta do meio-dia. No primeiro dia, nós andamos 13 horas, só foi 400 quilômetros por causa de barreiras, checkpoints que a gente parava, de trânsito, e acabou que atrasou muito. Então, resolvemos parar em Ternopil para descansar. Graças a Deus o cidadão ucraniano nos abraçou, nos deram comida, nos deram um quarto, um hostel para a gente descansar naquela noite, na noite de ontem. E hoje acordamos às oito horas da manhã, com sentido a Lviv. A viagem de 200 quilômetros, 250 quilômetros, porém tardou um pouco mais, foram quatro horas e pouquinha. Chegamos 12h30min aqui em Lviv. A gente tá com a Embaixada, os embaixadores vem ajudando a gente desde Kiev em relação à hospedagem, chegar aqui, porque se não fossem eles a gente não estaria aqui agora. A gente está no hotel junto com eles de momento, porque tem que esperar para amanhã ir para Polônia, pois não há mais trens hoje. Então vamos aguardar amanhã e vamos fazer assim o embarque para Polônia e ficar tranquilos se Deus quiser”, explicou o engenheiro eletricista David Abu-Gharbil.

Ouça o relato de David Abu-Gharbil durante a edição do Ponto de Encontro:

 

Brasileiros chegam em Lviv após fugirem de Kiev, na Ucrânia. Foto: David Abu-Gharbil

Lviv está sobrecarregada devido à chegada de refugiados ucranianos. “O cenário que nós vimos até agora foi da rodovia até o hotel onde estamos alojado. Um congestionamento gigantesco, para andar 50 metros levava quase uma hora. E muita gente, porque aqui funciona como base para o pessoal ir para outros lugares da Europa, ou seja, a cidade literalmente está lotada”, disse Rony de Moura.

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