A época do final de ano desperta vários gatilhos emocionais nas pessoas, principalmente naquelas que se sentem mais cansadas mentalmente. De acordo com o psicólogo Alex Cambruzzi, estudos mostram que aproximadamente 80% das pessoas ficam com o nível de estresse mais elevado perto do Natal. Além do estresse, cansaço, desregulação emocional, ansiedade, irritabilidade e outros fatores, também existe a pressão social de que as pessoas precisam ser felizes e estarem contentes com as realizações do ano. “Às vezes a gente cria uma divergência entre o que está sendo solicitado e aquilo que está acontecendo internamente com a gente”, ressalta Alex.

Conforme o especialista, a época do final de ano é como se fosse um marcador de episódios de eventos que foram acontecendo na vida das pessoas. “Algumas pessoas chegam nesse período do ano com dificuldades financeiras, outras passam por esse período do ano com perdas, e tem vários fatores que podem acontecer nessa fase e que vão criando marcadores históricos que vão se repetir em outros anos”, explica Cambruzzi. “Imaginemos aqui uma perda de alguém no mês de dezembro. Há uma divergência emocional. Eu chego numa fase do ano onde eu olho ao redor tantas pessoas celebrando, mas internamente eu passei por uma perda, por um momento de infelicidade que eu não consigo mais olhar para aquele momento, para aquela época, com alegria, com disposição, entusiasmo”, acrescenta.

O psicólogo ressalta que esse sentimento é algo natural, que pode demorar determinado tempo. No entanto, é necessário observar a frequência em que isso acontece. “Eu diria que quando a gente chega nesse período e a gente sente que não está bem, isso pode sim acontecer. O que nós vamos ter que observar é a repetição e a extensão desse não estar bem. Não estou bem porque aconteceu um episódio em outros anos de entristecimento, e eu estou rememorando isso, relembrando, tudo bem. Mas eu não estou bem ao longo de uma, duas semanas, opa, temos marcadores aqui que precisamos investigar e entender se, de repente, essa pessoa está se aproximando de algum adoecimento mental e que precisa ali de uma intervenção rápida para poder aplacar aquele sofrimento”, comenta.

O programa Ponto de Encontro abordou mais detalhes sobre o assunto em entrevista com o psicólogo Alex. Ouça na íntegra:

 

Cambruzzi ressalta que os sentimentos têm fluidez. “Nada vai ser por longo prazo, a não ser que eu esteja adoecendo. Ou seja, ficar triste, ficar alegre, ficar ansioso, ficar com esperança, ter um pouco de estresse, tudo isso é natural”, afirma. Conforme o especialista, o final de ano gera um período de atenção maior, sendo necessário dois pontos importantes para se atentar e sair dessa pressão. “Primeiro, aceitando que nós temos fluidez emocional, nós não vamos estar bem o tempo todo. Segundo, observando se isso tem grande período de extensão, se nós estamos há mais de uma semana, 15 dias, passando por sofrimento emocional, tem que investigar isso junto ao profissional da saúde mental, psiquiatra ou psicólogo, porque aí a gente pode estar se aproximando de um adoecimento, de um agravamento, de uma cronificação”, reforça.

O especialista frisa que é importante ter momentos de transição que evitam a exposição contínua a estímulos desagradáveis. Por exemplo, se a pessoa percebe uma pressão maior no ambiente de trabalho, é preciso que ela descanse e espaireça. Cambruzzi dá como exemplo a noite de véspera de Natal, quando as pessoas acabam muito envolvidas na organização da festa, no qual depois de um dia de compromissos não se sentem totalmente dispostas a celebrar. “Procure um momento de transição. Se você vai ter uma série de atividades naquele dia, organize uns 30 minutos onde você possa sentar, possa relaxar e se desconectar com aquela série de atividades daquele dia para poder fazer uma transição emocional, poder fazer uma melhor conexão com aquele momento de transição”, recomenda.