Crianças, adolescentes e também adultos podem ser vítimas do bullying. As vítimas da prática podem desenvolver diversas dificuldades, gerando impactos na qualidade de vida. De acordo com o psicólogo Alex Cambruzzi, há diferenças entre brincadeiras e intimidações. “A brincadeira não tem o objetivo de machucar, de humilhar e de muito menos causar intimidação. Quando aquele comportamento prejudica o outro, causa constrangimento, medo e está ocorrendo repetidas vezes, nós estamos em frente a uma situação de bullying”, destaca.

Conforme o psicólogo, o bullying pode ser praticado com agressão física, como chutes, empurrões e beliscão; verbal, com xingamentos, insultos e apelidos pejorativos; e relacional, quando a vítima é isolada e ignorada da convivência de outros colegas. Além disso, Cambruzzi destaca sobre o cyberbullying, que é praticado no meio digital. “O bullying está na polaridade do sofrimento, da depreciação, de fazer a vítima se sentir intimidada, insegura, de provocar a sensação de desvalia”, comenta.

Para o especialista, o agressor não é empático ao sofrimento da vítima. Cambruzzi reforça uma regra que considera importante, para que os pais, responsáveis e educadores a sigam: nunca se coloca a vítima de bullying em frente ao agressor para conversarem e resolverem a situação. “Nunca, jamais, isso está errado. Colocar os dois para, supostamente, se entenderem é favorecer o agressor”, afirma. O correto é trabalhar a situação separadamente. “Ao agressor são aplicadas a sanção pedagógica, a punição e a oferta de reflexão. A vítima a gente oferta o suporte emocional”, frisa.

O programa Ponto de Encontro abordou mais detalhes sobre o tema em entrevista com o psicólogo Alex. Saiba mais:

 

Cambruzzi esclarece que há uma série de fatores que podem levar pessoa a praticar o bullying. O ambiente, a constituição psíquica e até transtornos mentais devem ser considerados. Além disso, existe um fator importante: as sociedades possuem atitudes violentas. “Um modo muito presente na forma de aprender dos nossos filhos é o que a gente chama de espelhamento. Eles reproduzem algumas condutas que veem ao seu redor. Se a criança convive em espaços de pouco afeto, onde se coloca em primeiro, o vencer a todo custo, onde se usa a agressividade como uma estratégia para resolver o que incomoda, essa criança, esse estudante, para lidar com o que decepciona, ele vai aprendendo com esses modos de fazer”, exemplifica.

Outro fator que pode estar ligado a prática de bullying é a menor presença de modelos que incentivem a empatia e a solidariedade. “A gente precisa ensinar nossos estudantes, os nossos filhos, a serem altruístas, a identificarem o valor e a prática do respeito ao outro”, reforça Cambruzzi. O psicólogo ainda destaca que os pais devem estabelecer um diálogo com os filhos, para que eles saibam que podem contar com alguém caso sejam vítimas do bullying. Pais devem conhecer quem são os amigos da criança, saber o que ela faz, ter um acompanhamento com o professor na escola. Isso tudo auxilia no cruzamento de informações, que ajuda a identificar se algo está de errado.

Além disso, o psicólogo ressalta sinais que podem indicar que a criança está sendo vítima de bullying. “O estudante está mais irritado, desobediente, introspectivo, a criança que era alegre se torna uma criança irritadiça, que está evitando fazer contato”, comenta Cambruzzi. A queda no rendimento escolar e a regressão em etapas da vida também são um alerta. “Por exemplo, quando a criança volta a fazer xixi na cama, quando o estudante está tendo resistência a ir à escola, tem presença de dor de cabeça, dor abdominal sem uma causa aparente”, afirma.

Vítimas de bullying podem ter impactos negativos, como estresse elevado, ansiedade disfuncional, prejuízo no desempenho escolar e social, abandono nos estudos, baixa autoestima e até o desenvolvimento de quadros depressivos, elevando o risco de suicídio. “Quando a gente traça uma linha do tempo vê que a longo prazo, inclusive, acaba surgindo a ocorrência de relacionamentos afetivos mais abusivos, de influência na carreira profissional e até mesmo a propensão da cronificação de transtornos mentais”, comenta Cambruzzi.