Exatamente um ano depois da Operação Benedetta, que resultou no afastamento do prefeito de Urussanga, um dos denunciantes que fez a representação na Polícia Federal, Luiz Henrique Martins (o Cuíca), relembrou das provas e fatos sobre o caso. Cuíca participou de entrevista no programa Comando Marconi e afirmou que se as provas do crime fossem “frágeis”, Luis Gustavo Cancellier (PP) já teria retornado aos trabalhos da prefeitura do município. Cuíca e o ex-vereador, na época assessor parlamentar do Legislativo, Julio Cesar Bonetti, foram os responsáveis por fazer o pedido de representação na PF sobre a possível má aplicação de recursos públicos contratados pelo Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa), da Caixa Econômica Federal.

Cuíca contou que as suspeitas iniciaram em 2020, quando Julio fez os requerimentos sobre as informações dos gastos das obras que estavam usando o recurso do Finisa. A prefeitura não passava as informações necessárias solicitadas por Julio (entenda mais clicando aqui). Esse fato foi considerado como um “mau sinal” pelo ex-vice-prefeito. “Um prefeito, disse abertamente para mim, que a nossa cidade estava sendo saqueada e quem fazia todo o esquema era o irmão gêmeo do prefeito. Ponto. Ele me disse isso”, completou. Cuíca também disse que o secretário da prefeitura disse para ele que a prefeitura queria saber se ele estava investigando as obras. “Pronto, outro mau sinal”, disse.

A partir daí, junto com a falta de informações dos requerimentos solicitados, a afirmação do prefeito de outra cidade sobre a situação e o indício de que a prefeitura queria saber por que ele estava investigando, fizeram Cuíca e Julio procurar mais provas. “Os valores da hora máquina eram normais, não chamava atenção. O problema estava na quantidade das horas, um serviço que levaria 10 horas colocavam 100, um serviço que levava 20 horas botavam 200. Serviços que não foram feitos, zero hora máquinas, colocaram 500”, afirmou Cuíca. O ex-vice-prefeito falou também que, inclusive, ele o Julio fizeram um pré-contrato com dois engenheiros para analisar os locais das obras e fazer o orçamento de quanto seria gasto.

O “furo da bala”, segundo Cuíca, foi a postagem de fotos nas redes sociais por parte de um morador da rua Silvio Ferraro, no bairro Da Estação. Cuíca contou que a postagem era uma espécie de “diário” da obra, onde mostrava o andamento dos trabalhos. Porém, nas quase 200 imagens, em nenhuma delas aparecia a máquina que constava nas planilhas de gastos. Cuíca salvou as imagens, porém a postagem foi excluída. “O morador, talvez até querendo uma forma de agradecimento ao prefeito e mostrando a felicidade de receber a obra, ele acabou sem querer entregando a prova fundamental, porque nos deu toda a segurança, e aí nós fomos juntos até a Polícia Federal e levamos a documentação e a partir daí deu o que deu, tanto tinha fundamentos que teve a Operação Bendetta”, comentou.

“O delegado da Polícia Federal não é azul, não é vermelho. O Ministério Público não tem paixão partidária, não é nem PP e nem MDB. O juiz também não, lá eles veem de maneira fria, eles tiram toda a emoção e vão pela razão, e a razão é gritante”, disse Cuíca. Saiba mais detalhes na entrevista completa com Cuíca para o programa Comando Marconi:

 

Sobre a recente entrevista de Cancellier à Rádio Marconi, Cuíca afirmou que achou uma “demagogia, hipocrisia e tudo e mais um pouco, porque ele sabe o que fez”. Cuíca ainda disse que a Câmara de Vereadores está fazendo o seu papel ao investigar Cancellier na Comissão de Investigação e Processante (CIP). “É natural a volta dele em algum momento, ele só não volta se a câmara cassar. Aí as pessoas estão criticando a câmara, a câmara está fazendo o papel dela”, afirmou. “Ele está há um ano sob uma cautelar, então o Judiciário e o Ministério Público estão convencidos de que o caso é grave, que tem documentação e tem provas, porque se elas fossem frágeis, ele já teria voltado, vamos ser realistas”, completou.

Cuíca ainda falou sobre a afirmação de Cancellier de que a cidade está “parada”. “Se a cidade está, porque não foi para Florianópolis resolver o problema da rodovia dos Mineiros? Ele não estava proibido de ir lá, ele não estava proibido de ir a Brasília buscar dinheiro para o município”, disse. “Se está parada por que ele não mexeu? Ele não estava impedido de mexer, ele não estava preso e nem com tornozeleira, ele podia movimentar isso. ‘Ah mas eu não sou o prefeito’, tudo bem, tu é prefeito e tu recebe, só que está afastado e podia ir para Florianópolis (…) Podia ficar articulando por WhatsApp, conseguindo recursos, não travando obra”.

Sobre a CIP no Legislativo, Cuíca ainda comentou que, na visão dele, a câmara não deveria ter “misturado” as comissões de Cancellier e do vereador Rozemar Sebastião (PDT). “Na minha opinião era mais fácil conquistar, se faltava o voto do Rozemar, eu tentaria conquistá-lo”, falou. “Agora ficou assim com um ar de política, sabe? Era mais fácil convencer de forma técnica”.

Leia também:

“É uma manobra absurda”, fala prefeito afastado de Urussanga sobre CIP

Karine Possamai Della / Da Redação