Relacionado com o desenvolvimento de diversos problemas de saúde, o consumo dos alimentos ultraprocessados deve ser evitado. De acordo com a pesquisadora Maria Alvim Leite, integrante do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP), os alimentos são divididos conforme a classificação NOVA. “A gente para de olhar para o alimento de acordo com o que ele mais oferece em termos de carboidrato, proteína, lipídios e começa a olhar para o alimento de acordo com o grau de processamento”, destaca.

Segundo Maria, a classificação divide os alimentos em quatro grupos, sendo uma crescente de processamento. “O primeiro grupo são os alimentos in natura ou minimamente processados, são aqueles que são extraídos da natureza e sofrem pouca ou nenhuma manipulação, por exemplo, o arroz que é colhido, a farinha que é o grão moído, uma carne limpa, uma carne resfriada, o ovo, as frutas, os legumes e as verduras”, explica. “Depois a gente tem os ingredientes culinários processados, que são os alimentos que sofreram algum refinamento, eles são extraídos da natureza, mas são refinados, a gente tem os óleos, o sal e o açúcar”, complementa.

O terceiro grupo é composto pelos alimentos processados. “Os processados são aqueles alimentos que têm, sim, algum grau de tecnologia de processamento envolvido na fabricação, mas que são alimentos que eu falo que são os alimentos antigos: é o pão, o queijo, as geleias, as compotas. Quando a gente olha a lista de ingredientes de um alimento processado, só tem comida de verdade, só tem alimentos dos outros grupos”, esclarece. “Aí depois, por último, vem os alimentos ultraprocessados, que esses sim têm uma lista de ingredientes super longa e complexa, que tem vários ingredientes químicos que são fabricados pela indústria de alimentos”, acrescenta a especialista.

Entre os ingredientes químicos, os ultraprocessados possuem aromatizantes, colorantes, texturizantes e emulsificantes. “São os ultraprocessados que a gente compreende hoje que não devem ser consumidos pelas pessoas”, frisa Maria. O assunto foi abordado em entrevista no programa Ponto de Encontro. Ouça mais:

 

Conforme a pesquisadora, estudos recentes identificaram 30 desfechos negativos para a saúde pelo consumo de ultraprocessados. “A gente pode destacar o ganho de peso, a obesidade, diabetes, hipertensão, câncer, depressão, fragilidade…”, comenta. “Também existe uma associação entre mortalidade precoce e o consumo desses produtos”, complementa Maria. Além disso, esses tipos de alimentos podem desenvolver problemas para a saúde mental. “Estudos mais recentes têm mostrado a associação com doenças e transtornos mentais, como uma depressão e, por exemplo, a demência”, frisa.

O consumo de ultraprocessados deve ser evitado principalmente durante o desenvolvimento, com as crianças e adolescentes. Para Maria, o controle desses alimentos ainda é um desafio. “A gente tem que entender que precisa haver políticas públicas que vão regulamentar a venda desses alimentos e a exposição das crianças a esses alimentos. Em países como o Chile, é proibido a propaganda de alimentos para o público infantil”, comenta. “O que a gente almeja hoje é a taxação desses produtos. Está sendo discutida a nova tributação dos alimentos, a reforma tributária está sendo discutida pelo Ministério da Fazenda e a gente está de olho nisso, porque a gente espera que os alimentos ultraprocessados sejam tributados, na mesma lógica que a gente pensa no cigarro”, salienta a pesquisadora. Por outro lado, segundo Maria, é necessário subsidiar os alimentos in natura ou minimamente processados, para que o consumidor possa comprar esses produtos mais saudáveis.