Uma distração para muitos, que é usada pelos próprios pais para entreter as crianças. O uso de telas, principalmente o celular, pode causar diversos prejuízos, tanto no desenvolvimento social como problemas oculares. A principal orientação dos órgãos de saúde é evitar a exposição de telas para as crianças de até 2 anos de idade. De acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), doutora Júlia Rossetto, a partir dessa idade, existe um tempo limite para cada faixa etária. De 2 a 5 anos de idade, o recomendado é uma exposição de, no máximo, meia hora por dia. Dos 6 aos 10 anos, o limite aumenta para duas horas.

Crianças que são expostas a telas por longos períodos podem desenvolver problemas como o estrabismo convergente, aumento da miopia e olho seco. Esses problemas são gerados por conta da visão ficar muito perto do aparelho, além de que a pessoa tende a piscar menos. “A gente pede para respeitar esse tempo de tela, mas, mais do que isso, a estimular pelo menos duas horas por dia de atividade ao ar livre. Isso consegue contrabalançar e prevenir esse aumento da miopia”, explica a doutora.

Ficar muito tempo em uma tela, seja um celular ou computador, também pode causar uma falsa miopia. “A criança fica tanto tempo focando para perto que ela ativa a acomodação dela visual, que é o que dá o foco para perto, e esse foco não consegue relaxar quando ela olha para longe. Então, a criança passa a não enxergar para longe justamente porque ela ficou muito olhando para perto. Isso a gente chama de espasmo de acomodação”, ressalta Júlia.  O assunto foi abordado em entrevista no Ponto de Encontro. Ouça:

 

Segundo a especialista, tanto a miopia como a falsa miopia fazem com que a criança tenha dificuldade de identificar coisas de longe. “É aquela criança que tem dificuldade de ler o quadro, que se aproxima muito dos objetos, ou que não reconhece os pais quando eles estão do outro lado da rua, ou qualquer tipo de sintoma de dificuldade de longe”, afirma. “O olho seco pode dar olho vermelho, sensação de areia e a criança pode estar com piscar excessivo”, acrescenta a doutora.

Esses sintomas tendem a variar comparando crianças com adultos. Em crianças, é mais comum observar a miopia e espaços de acomodação. Já no adulto, é mais comum o olho seco e a síndrome da visão do computador. Conforme Júlia, essa síndrome se caracteriza pelo cansaço visual pelo uso excessivo de telas, quando a pessoa sente a visão embaçada. Assim como as crianças, uma recomendação também para os adultos é fazer uma pausa de 20 segundos a cada 20 minutos, e olhar para uma distância de pelo menos seis metros piscando bastante. “Nesse olhar de longe, você vai relaxar a sua acomodação”, destaca a doutora Júlia.

A oftalmologista salienta que é necessário sempre manter uma distância visual das telas. Além disso, as pessoas que já possuem problemas precisam manter os cuidados, como usar os óculos, as lentes e utilizar lubrificante ocular se necessário. Para as crianças, é importante que a família crie hábitos e regras sobre o uso de telas. O uso da televisão é mais preferível do que a tela do celular, por exemplo. “Não use telas no momento das refeições, porque isso atrapalha a concentração da criança na comida, a sensação de saciedade ou mesmo o prazer pelo paladar, aprender a comer e aprender a socializar”, destaca.

O uso de telas deve ser evitado também nos momentos antes do sono, por pelo menos duas horas. “As telas podem estimular as crianças, dificultar a entrada no sono e deixar o sono delas muito turbulento. Então, se vocês costumam usar telas para acalmar as crianças à noite, talvez seja melhor sentar para ler um livro, ou de repente colocar uma história no áudio do próprio celular, que a criança use a imaginação e não fique só com aquele estímulo da tela”, comenta. Além disso, a doutora frisa que as telas devem ser usadas em último recurso. Em um restaurante, por exemplo, é preferível que os pais oferecem outras atividades ao invés do celular para a criança, como um brinquedo ou folhas e lápis para desenho. “Muitas vezes as crianças hoje em dia estão com dificuldades de lidar com o tédio, dificuldade de se autorregular, dificuldade de lidar com a frustração”, comenta.