Para os ex-membros do Partido Progressista de Urussanga, a sigla demorou para tomar a decisão sobre o prefeito Luis Gustavo Cancellier, que foi preso preventivamente nesta semana. Isso porque Cancellier já era alvo de investigações em 2021, ano em que diversas pessoas ligadas ao partido se desfiliaram. Na época, os ex-integrantes alertavam para haver o afastamento do prefeito, para que o partido não fosse prejudicado de alguma forma. O pedido não foi atendido pela maioria, o que resultou na saída de diversos membros, inclusive da própria Executiva da época. Nesta semana, Cancellier e o vereador Thiago Mutini, ambos investigados pela Operação Terra Nostra da Polícia Civil, foram expulsos do PP após as prisões.

Jaderson Roque, Clézio Freccia e Sergio Maccari Junior eram integrantes do PP até setembro de 2021. Com a Operação Benedetta, da Polícia Federal, que resultou no afastamento de Cancellier do cargo de prefeito, em maio de 2021, o partido se reunia para discutir sobre a situação. De acordo com Jaderson, que era presidente do partido na época, a possibilidade de afastamento do prefeito do partido era comentada para isentar a sigla da situação que estava ocorrendo. “A maioria decidiu por deixar como estava, esperar mais um pouco”, relembrou. Em 2021, o posicionamento de diversos membros do PP era da presunção da inocência dos envolvidos na operação. “Entretanto, na política, nós não trabalhamos com decisões judiciais. Política se trabalha muito com a imagem, com a imagem pública”, comentou Sérgio.

Na Operação Benedetta, Clézio também foi um dos alvos da ação da Polícia Federal, porém, as investigações mostraram que ele não estava envolvido. Na época, Clézio se afastou temporariamente do PP por conta própria, até que as investigações fossem concluídas. “Naquele momento em que um membro da Executiva foi inocentado, foi absolvido e outras pessoas se tornaram réus, alguma coisa errada existia”, comentou Sergio. Os três ex-membros do PP urussanguense participaram de uma entrevista no Comando Marconi, no qual falaram, pela primeira vez em três anos, os motivos que os fizeram sair do partido. Ouça na íntegra:

 

Sobre a expulsão do prefeito do PP, ambos afirmaram ser uma decisão certa, porém, demorada. “Se tivessem tomado essa decisão em 2021, não da expulsão, mas do afastamento, talvez outras situações não tinham acontecido no decorrer desses anos no processo público dele como prefeito”, afirmou Jaderson. “Tu não precisa esperar tudo acontecer, todo o desgaste ser acumulado para tomar uma decisão, tu podes tomar sim decisões de caráter preventivo e, na época, nos falamos muito isso, nós temos que tomar decisões de caráter preventivo”, acrescentou Sergio. “A gente fica triste pela situação, mas, ao mesmo tempo, a gente fica feliz porque, lá atrás, em 2021, as sugestões e as situações que a gente queria que o partido tomasse surtiu efeito agora”, frisa Clézio.

Além da entrevista, os três ex-membros enviaram uma carta à Rádio Marconi com um resumo do que ocorreu em 2021. A publicação do texto foi autorizada por Sergio. Leia:

O real motivo das dissidências do Progressistas

A executiva de um partido político, além de cumprir as exigências legais, possibilitando que o partido esteja regular para a disputa eleitoral, é responsável por definir os rumos da instituição, colocando os anseios da comunidade, em primeiro plano, seguidos pelos valores éticos e morais e propósitos defendidos pelo partido, de modo que os interesses pessoais e conveniências jamais devem prevalecer, sobre os aspectos citados, anteriormente.

Em 2021, logo após a deflagração da Operação Benedetta, o então Presidente do Progressistas, Jaderson Roque, o Xero, propôs uma reunião da executiva do Progressistas, no mesmo dia da operação policial, a fim de que o partido se posicionasse, diante do ocorrido, mas, na época, a maioria da executiva optou por aguardar alguns dias, até surgirem mais informações e desdobramentos.

Após, aproximadamente, 10 dias, ocorreu uma reunião, a fim de o partido apresentar um posicionamento público, e, nesta ocasião, estranhamente, alguns membros da executiva demonstraram a intenção de emitir uma nota de apoio e solidariedade ao Prefeito, mas, no decorrer da reunião, outros argumentos foram apresentados pelo senhor Sergio Maccari Junior, em contraposição, baseados em informações e documentos, que indicavam a possibilidade de graves indícios de irregularidades, que estavam sendo apurados pelas autoridades policiais. Por fim, foi emitida uma nota pública, sem a defesa expressa do Prefeito e envolvidos, que, naquele momento, foram retirados do grupo de Whatsapp da executiva e não participavam mais das reuniões do comando do Partido.

A medida que novas informações surgiam e o afastamento do Prefeito e envolvidos se prolongava, foi ficando evidente a necessidade de o partido tomar uma decisão mais representativa, com a finalidade de preservar a instituição do desgaste e prejuízos à imagem pública, provocados pelas denúncias e investigações contra indivíduos ligados á sigla.

Num gesto de extrema grandeza, o senhor Clézio Freccia, então tesoureiro do PP, que, num primeiro momento, também foi investigado, na Operação Benedetta, sugeriu que ocorresse o seu afastamento da executiva e do partido, enquanto estivesse sendo investigado, com a intenção de não prejudicar os demais filiados e simpatizantes da instituição, mas com a condição de que todos os outros citados na investigação policial também recebessem o mesmo tratamento.

Tal proposição foi levada à reunião da executiva, no mês de agosto, com a finalidade de o Partido assumir um posicionamento público, que protegesse a sigla, através do afastamento das atividades partidárias das pessoas citadas, e a sugestão foi rejeitada, pela maioria da executiva, alegando que tal ação seria concebível, apenas com o consentimento dos envolvidos.

Pessoas de grandeza de espírito e que não tem nada a temer, tomariam a iniciativa, assim como Clézio o fez, de se afastar, pensando em não prejudicar o restante do grupo, mas foi um ato isolado, não repetido pelos demais envolvidos, e não ocorreu o afastamento de nenhum envolvido das atividades partidárias.

No início de setembro, com a manifestação da Polícia e Justiça federais, pela inocência do senhor Clézio Freccia, excluindo ele do processo e isentando de quaisquer acusações, ocorreu outra reunião do PP, onde ele voltou a participar das reuniões da executiva e explanou, baseado nas informações públicas divulgadas, até então, sobre a gravidade dos fatos apurados, assim como reforçou a importância de preservar o partido, através do afastamento das atividades partidárias dos que viraram réus, no processo, e uma manifestação pública da sigla.

Tal sugestão foi endossada pelos senhores Jaderson Roque (Presidente do Partido), Jacir Paulo Dagani e Sergio Maccari Junior, mas recusada pelos demais membros da executiva.

O afastamento das atividades partidárias sempre foi encarado, pelos membros contrários à aplicação de tal decisão, como um pré julgamento dos envolvidos, o que não corresponde ao que, de fato, é, pois a decisão pela culpa ou não, cabe à justiça, e não cabe ao Partido condenar e nem inocentar os citados, mas, apenas, atuar de forma a se proteger das possíveis consequências dos atos individuais de seus membros.

Nos dias que se seguiram, outra reunião foi agendada para o dia 15/09, e, desta vez, no dia programado, durante a tarde, foi informado que o Prefeito Gustavo teria intenção de participar desta reunião, para apresentar o seu posicionamento ao partido, mas que, para isto, os senhores Clézio e Sergio não poderiam estar presentes, por serem testemunhas no processo e estar proibido o contato com um réu, no mesmo processo, por determinação judicial.

Diante de tal argumento, a maioria dos membros da executiva pediu a compreensão dos senhores Sergio e Clézio, que foram “desconvidados”, para que o Prefeito fosse ouvido sozinho, sem contraposição.

Ficou claro que ouvir alguém que já era réu, num processo da Justiça Federal, após a averiguação inicial dos fatos, era muito mais importante e interessante do que ter pessoas honestas e sérias, presentes nas reuniões.

Naquele momento, ficou evidente que os interesses pessoais e a conveniência de estar ao lado de alguém, que poderia retornar ao poder, estava acima de qualquer valor ético e moral de boa parte da executiva, e que o partido, seus membros e simpatizantes estariam expostos e associados a todo o desgaste público provocado pela ação de indivíduos.

Desta forma, na referida reunião, os senhores Clézio e Sergio já encaminharam a sua desfiliação do Partido, através do Presidente Jaderson, que, durante a conversa, também manifestou a sua intenção de deixar a presidência da sigla e se desfiliar, o que também foi feito, na sequência, pelo senhor Dagani e por muitos outros, até então, filiados do partido.

O Progressistas, desde então, recebeu a desfiliação de um ex-Prefeito, quatro ex-presidentes do Partido, dos últimos 20 anos, além de diversas lideranças que não se sentiram mais representadas pelo grupo a frente de um partido que, na sua maior parte, foi conivente e omisso, diante de todos os acontecimentos graves dos últimos tempos, relacionados a suspeitas de corrupção e práticas questionáveis, nos aspectos éticos e morais.

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