O Abril Azul é uma importante campanha que destaca a conscientização do Transtorno do Espectro Autista, o TEA. De acordo com a psicóloga da Associação de Pais e Amigos de Autistas (AMA), Georgia Paula Dias, o TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento. Seus principais sintomas são as dificuldades na interação social, comunicação e no comportamento. Conforme a fonoaudióloga Ana Carina Tamanaha, alguns sinais podem ser notados já nos primeiros meses de vida. Os especialistas ainda ressaltam que o TEA pode ser apresentado em diversas idades e em níveis diferentes.

Segundo a doutora Ana Carina, os sinais podem ser observados já nos dois primeiros anos de vida. “É possível observar uma dificuldade da criança em manter o contato visual, por exemplo, estar atenta às pistas sociais do ambiente, ter uma dificuldade para se engajar nas atividades que a família, os cuidadores, enfim, os pais propõem”, explica. A psicóloga da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Urussanga, Janaína Medeiros, também destaca sobre o assunto. “A partir do sexto mês de vida ela já tem que mostrar mais do que mostrava a respeito dessas capacidades que o cérebro já tem”, comenta.

Para a psicóloga Georgia, pessoas com o TEA apresentam resistência na rotina. “São algumas características que, normalmente, acende essa luzinha para o pai, para a mãe, até para o professor, o familiar, entender que ‘opa, tem alguma questão ali que precisa ser avaliada'”, salienta. Sobre a campanha Abril Azul, a profissional explica que a cor se deve ao fato de que existem mais pessoas do sexo masculino com o TEA do que do sexo feminino. O assunto foi abordado em entrevista no programa Ponto de Encontro. Entenda:

 

A doutora Ana Carina reforça que a campanha Abril Azul é fundamental para que as famílias se conscientizem sobre o TEA e busquem o diagnóstico. A especialista ainda destacou sobre o aumento no número de casos de pessoas com autismo. Para Ana Carina, existem uma série de fatores que contribuem para isso: a disseminação de mais informações sobre o assunto; a melhora dos instrumentos de diagnóstico; e o diagnóstico incluindo mesmo as pessoas com sintomas mais leves. “A ideia é que a gente melhorou a identificação e ela está ficando mais precoce, mais abrangente”, comenta.

A fonoaudióloga também esclarece que o TEA pode ser caracterizado em três níveis. “A gente vai ter esses diferentes níveis. Então desde a criança que tem muita dificuldade, realmente não produz palavras e daí ela precise de um sistema de comunicação alternativo, aumentativo, até pessoas que são muito verbais, mas que têm dificuldade no uso, na escolha que ela vai fazer das palavras, da forma como ela vai se expressar em diferentes contextos, com diferentes interlocutores, então varia bastante”, explica Ana Carina. O assunto também foi abordado em entrevista, saiba mais:

 

Em Urussanga, de acordo com a psicóloga Janaína, a Apae atende 37 pessoas com autismo ou com sintomas em diferentes níveis e idades. “Nós temos hoje 25 alunos com diagnóstico fechado, que frequentam lá, e 12 com apenas sintomas. São crianças com sintomas que estão fazendo intervenção e até é uma alegria quando a gente consegue dar alta para essas crianças da estimulação, ou seja, alta quer dizer o quê? Frequentou atendimento com a gente, recebeu estimulação, hoje os sintomas são mínimos, muito leve, muito sutil, então pode seguir com o atendimento lá fora”, explica.

Para a profissional da Apae de Urussanga, a campanha Abril Azul ajuda na conscientização, para que as pessoas que não têm o TEA entendam como funciona a mente de quem têm. “As pessoas vão entender como é que funciona o cérebro de um autista. Para eles, eles fazem uma programação do que vai acontecer no cérebro deles. Se foge daquela programação, é como se um buraco negro abrisse nos pés dele e ficassem sem chão de estrutura. O raciocínio desestrutura completamente. Por isso eles têm essa crise de ansiedade ou de irritabilidade, porque fogem daquele previsto e aí eles se desestruturam mentalmente e no comportamento também”, salienta a psicóloga Janaína. Ouça mais detalhes:

 

O filho de 12 anos do urussanguense Roberto Ronconi possui TEA. Nicolas apresentou sinais por volta dos três anos de idade. Conforme Roberto, Nicolas tinha algumas dificuldades de interação social, que inclusive foram percebidas após ele entrar na creche. Nicolas tem o autismo considerado em grau leve. “Pode ser leve para nós que estamos vendo de fora, mas para eles já pode ser muito”, comenta o pai. Roberto falou mais sobre o tema em entrevista, confira:

 

Roberto frisa que ainda não existe muito preconceito  sobre o autismo. “É muita desinformação sobre o assunto. Às vezes me entristece que eu vejo as pessoas dizendo ‘ah, é modinha’. Não é, nós estamos ali, o pai, a mãe que tem um filho autista sabe toda a luta que é para incluir ele na sociedade, de tratamento, correr atrás de seus direitos, de ter uma vida saudável, que ele consiga essa inclusão, porque hoje o mundo para nós já é complexo, imagina para eles”, afirma.

O pai de Nicolas faz parte do Grupo Autismo e Inclusão de Urussanga, o Gaiu. Conforme Roberto, o grupo está em stand by devido a compromissos particulares dos integrantes, mas existe um grupo no WhatsApp onde os pais e familiares trocam experiências e informações.