Existem diversos movimentos musicais brasileiros que marcaram inúmeras gerações e que até hoje mexem com sentimentos de muitos. Nessas correntes, há músicos, cantores, produtores e compositores que se destacam. Na Bossa Nova, Roberto Menescal foi um dos fundadores do movimento e, aos 84 anos, ainda é lembrado e considerado uma referência por muitos amantes da música, da arte e da cultura. Na Música Popular Brasileira (MPB), Márcia Tauil conquista milhares de pessoas com sua voz e ritmo, até mesmo em outros países. O programa Ponto de Encontro realizou um especial com os dois nomes musicais. Roberto e Márcia falaram sobre a música brasileira, a paixão por ela, suas influências e contextos históricos.

Confira na íntegra a conversa com Roberto Menescal:

 

Ouça também a entrevista completa com Márcia Tauil:

 

O primeiro contato que Menescal teve com a música foi aos 11 anos, quando ganhou uma gaita de boca. O músico conta que naquela mesma noite, seu pai o viu tocando a gaita e notou que sons harmoniosos saíam do instrumento. O pai perguntou quem tinha ensinado ele a tocar, mas ninguém tinha feito isso, ele só estava soprando e, sem perceber, sons rimados surgiam. A partir daí, seu pai viu um potencial para a música. Menescal teve aulas de piano e, aos 17 anos, encontrou sua paixão pelo violão, que permanece até hoje. “Minhas influências foram muitos dos artistas do Samba Canção, como Dick Farney, Lúcio Alves, e principalmente o meu mestre, que até hoje peço perdão pelos meus pecados toda noite, que é o Tom Jobim”, comenta.

Menescal é conhecido por ser um dos fundadores da Bossa Nova. O artista conta que, no começo, o movimento nem se chamava por esse nome. Na época, por volta dos anos 50, o forte era o Samba Canção no qual Menescal afirma que era lindo, porém, as letras das músicas eram muito pesadas. “O nosso processo de criação voltou-se muito para aquela coisa mais saudável, mais solta, não tão pesada quanto era. E foi assim que a coisa começou, até que um dia uma pessoa, nós íamos ao show, e ela escreveu Sylvia Telles, que era uma cantora que nos deixou muito cedo, e o grupo Bossa Nova. Eu pensei que o grupo Bossa Nova era o grupo que tava tocando já nesse clube de dança, e ele falou ‘não, é que eu não sabia o nome de vocês e eu botei Bossa Nova, tem problema?’ e a gente falou não, não tem problema nenhum, o nome é nosso”, relata Menescal. “Nasceu de uma forma natural mais que desejada”, completa.

Quando começou a ditatura militar no Brasil, o movimento Bossa Nova já existia há cinco anos. Foi quando o parceiro de Menescal, Ronaldo Bôscoli, disse que eles deveriam parar de compor durante um período. “Nossa trilha não tá correta com o que tá acontecendo no Brasil, e a gente não vai mudar também só porque tem a ditadura e todo mundo tá fazendo música para a ditadura. Vamos hibernar um pouco e voltamos daqui uns dois anos”, comenta Menescal sobre o que Bôscoli disse para ele. “A gente achava que a ditadura ia demorar só uns dois anos, mas ela demorou os seus 20, 21 anos. E assim a gente começou a fazer músicas, mas sem aquela coisa do amor, só ‘o amor, o sorriso e a flor’, começamos a fazer umas coisas mais profundas”, completa.

A pandemia da Covid-19 foi assustadora para o músico. Menescal pensava o que faria trancado em casa. Mas isso não foi por muito tempo, já que após três meses, os trabalhos começaram a surgir novamente. Muitos músicos de fora do Brasil procuraram o brasileiro para compor e produzir músicas. A tecnologia contribuiu ainda mais para este contato e a expansão de parcerias. Menescal ainda afirma que trabalha mais agora após a pandemia do que antes dela.

Menescal é conhecido pelas suas músicas: O Barquinho, Você, Nós E O Mar, Eu e a Música, A Morte de um Deus de Sal, Chão de Giz, Amanhecendo, As Cores das Flores e tantas outras.

Foto: Reprodução / O Globo

Para Márcia, a paixão pela música já veio do seio familiar, através do primeiro contato. Seu pai tocava violão, o seu irmão tocava contrabaixo e era músico influente nos anos 60 e 70, e sua mãe também tinha o domínio sobre vários instrumentos. Márcia foi apresentava ao Chorinho pelo seu pai, e a Bossa Nova pelo seu irmão, por isso a grande admiração por Menescal. Logo, referências do MBP também foram apresentadas, conhecendo Edu Lobo, Djavan, Caetano Veloso, Jane Duboc, Vânia Bastos e tantos outros artistas musicais. “O que meu irmão me mostrou lá atrás, hoje eu tenho a honra de estar convivendo. É muito bonito isso para mim, muito prazeroso. Eu agradeço”.

“Eu adoro cantar o que caiba no meu sentimento, na minha voz, sendo ela samba, sendo ela forró, sendo ela Bossa Nova, sendo ela uma canção, sendo ela uma criação do Caetano Veloso. Então eu sou uma cantora de MPB, eu me defino assim”, ressalta Márcia. Para a compositora, o Brasil possui uma identidade cultural muito forte e respeitada mundialmente. “A música para mim não tem tempo não, a música é para sempre, quantas vezes a gente se pega ouvindo uma criação do barroco de séculos passados e se encantando. Então música não é uma arte parada, ela é atemporal no meu entendimento”, completa.

Márcia frisa a importância com o cuidado da voz e da prática de técnicas vocais. Muitos artistas não bebem e não fumam para não prejudicar o seu potencial vocal. Além disso, o estudo é sempre necessário, além do preparo, exercício físico, sono, alimentação e outros fatores que ajudam a fortalecer o desempenho da voz. E é isso que a cantora prega e ressalta para todos que queiram continuar na área da música e canto.

Assim como Menescal, Márcia possui as suas influências e mestres. “Eu canto do meu jeito, do meu canto, a minha maneira, mas eu tenho aqui a escola brasileira de Elis Regina, de Gal Costa, de Jane Duboc, de Vânia Paz Bastos, de Rosa Bastos, Clara Nunes, Beth Carvalho, Nana Caymmi… é muito difícil de falar. O importante é dizer a Amelinha, como é que você esquece, Elba Ramalho, não tem como, Fátima Guedes, não tem como você escolher uma cantora, cada uma traz a sua história de vida e eu pretendo, na minha voz e no meu particular, de cantar, sempre honrar a história dessas cantoras que formaram a música popular brasileira”.

Márcia é conhecida pelas músicas: Caiaque, Telefone, Águas da Cidade, Atrás do Tempo, Feitiço, Louco por Você, Paulista, Poeta Maior e tantas outras.

Foto: Reprodução / Jornal de Brasília