A forma como os pais ou professores apresentam a matemática para as crianças pode influenciar a aprendizagem delas. Dependendo do conhecimento que recebem, as crianças crescem com medo de errar. Isso tudo pode ir além da matemática, como para outros fatores da vida. Em “Por que o seu filho não aprende matemática?”, o autor André Barbeiro desmitifica  sobre o aprendizado da matéria, comentando fatores importantes que explicam o porquê a matemática é considerada o “bicho-papão” de muitas pessoas.

Apesar de ser doutor em matemática e professor na área, André tinha uma relação complicada com a disciplina durante a época de escola. “Eu desde a minha adolescência, até os 15, 16 anos, era a pior matéria do colégio. Eu passei pelo conselho de classe no 6° ano, 7°, 8° e 9° ano. E no Ensino Médio, graças a um professor que olhou para mim e não desistiu, acompanhou, eu passei a tomar gosto, a confiar, e hoje tornei professor”, contou André. “Eu busco também acompanhar os meus alunos e não desistir deles, afinal de contas, se alguém não desistiu de mim quando poderia, e hoje eu estou aqui por conta disso, eu também posso fazer a mesma coisa e não desistir dos meus alunos”, acrescentou.

Em lembrança ao Dia Internacional da Educação, lembrado nesta terça-feira, dia 24, o assunto foi abordado em entrevista no programa Ponto de Encontro com o professor André. Ouça na íntegra:

 

Um dos principais pontos mencionados no livro é o professor confiar em seu aluno. “O educador precisa ter a certeza de que ele é um educador, ele é um professor, não pela matéria que ele leciona, mas sim pelo estudante que está ali diante dele, alguém que está se formando, alguém que precisa ser acompanhado”, destacou. Para André, a tradição de que a matemática é um bicho de sete cabeças de tão difícil é repassada diversas vezes. “Muitas vezes os nossos avós transmitiram isso aos nossos pais, que por sua vez transmitiram a nós. Então não é difícil o aluno entrar no Ensino Fundamental já tendo ouvido em casa que a matemática é perigosa, que a matemática vai ser o enrosco, que a matemática vai trazer problemas, e essa barreira psicológica influencia e muito a criança”, comentou.

Para o especialista, essa barreira psicológica na criança é formada porque elas têm os pais como referência. “Se eles estão dizendo que vai ser complicado, isso já coloca na criança uma dificuldade anterior realmente aquilo que é a matemática”, falou. Por isso, é importante que os professores e os pais mostrem as crianças que a matemática não é difícil, ela é uma necessidade, uma ciência que surgiu a serviço da sociedade. O medo pelas exatas começa já na tabuada, não pelo cálculo, mas pela cobrança. “Muitas vezes é pelo jeito que é ensinado, muitas vezes a cobrança exagerada pelo acerto contínuo, que não se pode errar, porque o erro gera a punição”, frisou.

Este ponto é destacado no livro de André: o acerto para evitar a punição. “Há uma necessidade constante da nossa sociedade do acerto contínuo. Se o adolescente, se a criança erra, isso gera punição, e não deveria ser assim, nós precisamos mudar a chave e passar a compreender o erro como uma oportunidade de crescimento”, comentou. Esse fator também está ligado a psicologia e ao emocional da criança.  “Quantas vezes eu aplicava prova em sala de aula, o aluno e a aluna, diziam assim ‘meu pai e minha mãe vão me matar, eu preciso ir bem porque se não meus pais vão me matar’. Isso não ajuda no aprendizado”, ressaltou o professor.

Uma das dicas mencionadas no livro é o tipo de tratamento dos pais, além da educação. “É muito comum a gente usar adjetivos como esperto e inteligente. ‘Nossa, meu filho é muito esperto’, ‘minha filha é muito esperta’, ‘meu filho é muito inteligente’, ‘minha filha é muito inteligente’, ‘o meu sobrinho é a pessoa mais inteligente da idade dele que eu conheço'”, comentou. “Se a criança passou todo o tempo da vida dela ouvindo que ela é inteligente, que ela é esperta, na primeira dificuldade que ela tiver, ela vai se frustrar, e essa frustração vai criar um bloqueio psicológico”, destacou. “A dica que eu dou é substituir palavras como esperta, inteligente, pelo processo que o seu filho desempenhou”, sugeriu. “Na nossa vida nem tudo vai ser fácil, na maioria das vezes vai ser difícil, então desde cedo colocar para a criança, para o adolescente, que o que vale a pena mesmo é o processo”, reforçou.

Por que seu filho não aprende matemática?

A matemática deveria ser ensinada como poesia e não como martírio; ensinando desse último modo, como muitas vezes o fazemos, temos a mistura perfeita para causar o desânimo e o desinteresse por parte dos nossos alunos e filhos. (Por que seu filho não aprende matemática, pg. 39).

André Barbeiro

André Barbeiro é bacharel e doutor em Matemática pela Universidade de São Paulo (USP), e atualmente participa do programa de pós-doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Com experiência docente no ensino superior, André escolheu se dedicar aos alunos mais jovens, exatamente àqueles que são considerados por muitos como “difíceis de lidar”: as crianças e os adolescentes. Foi por eles que se tornou um apaixonado professor de matemática do ensino básico, encontrando no convívio com seus alunos a razão de sua vocação. A matemática é sua paixão. Porém, seus alunos são sua grande inspiração. Sem eles, nada teria sentido.

O livro pode ser adquirido acessando aqui.