Há 30 anos Urussanga firmava o pacto de amizade, Gemellaggio, com a sua cidade irmã de Longarone, na Itália. Há três décadas Urussanga se tornava a primeira cidade a fazer um pacto de amizade, abrindo portas para inúmeras possibilidades, seja na cultura, no turismo, no desenvolvimento econômico e, principalmente, no fortalecimento dos laços de amizade. Hoje, os reflexos que o Gemellaggio trouxe aos urussanguenses ainda são sentidos quando inúmeros jovens conseguem a dupla cidadania italiana com mais facilidade. Dupla cidadania esta que permite que muitos possam trabalhar em vários outros países do mundo, retornando a Urussanga e investindo na economia local.

Só que a importância do Gemellaggio não se resume a somente 30 anos de firmação. A secretária de Cultura e Educação de 1987 e ex-primeira-dama, Ana Maria Mariot Vieira, conta que a primeira vez que soube o que era o Gemellaggio foi em sua visita no Consulado da Itália no Brasil, em Curitiba. Durante a visita, Ana Maria questionou o cônsul para saber o que poderia fazer para preservar a cultura italiana em Urussanga. O cônsul respondeu que, por ora, daria a ela uma bandeira da Itália e livros para se iniciar uma biblioteca. “Trabalha, ele disse, trabalha. E, se tu trabalhar, nós vamos culminar com o Gemellaggio”, relata Ana. 

Névton Vicente Rech Bortolotto, um dos principais nomes da cultura urussanguense, conta que quando iniciou os seus trabalhos como arquiteto na prefeitura de Urussanga, no final dos anos 80, dona Ana Maria pediu para que ele olhasse a reforma da Igreja de São Gervásio e Protásio, na comunidade do Rio Maior. Bortolotto comenta que, ao estar saindo de lá após o seu trabalho, o senhor Stevan pediu para que ele ficasse por mais tempo, já que o padre Ótavio De Lorenzi Dinon, natural da comunidade, mas que morava em São Joaquim, iria visitar a região porque estava organizando um Gemellaggio entre o Rio Maior e a comuna de Erto e Casso, na Itália.

Foi Bortolotto quem sugeriu a ideia de, ao invés de fazer um pacto de amizade só entre duas comunidades, por que não fazer com as duas cidades? “Eu cheguei aqui, falei com a dona Ana, e a dona Ana ficou muito feliz, e tudo começou ali, frisa. Em julho de 1988, Bortolotto mandou uma carta para o prefeito de Longarone, Gioachino Bratti, convidando-o para participar da terceira edição da Festa do Vinho. “Ele ficou felicíssimo e já naquele momento ali ele já disse que não tinha dúvida nenhuma que Urussanga e Longarone deveriam se unir em forma de Gemellaggio, relembra Bortolotto.

O Gemellaggio foi firmado em Longarone no dia 6 de outubro de 1991, dias antes de se completar 28 anos da Tragédia de Vajont (leia mais aqui). Já em Urussanga o pacto foi firmado no dia 26 de maio de 1992, dia em que a cidade completava 113 anos de colonização italiana. Uma comitiva de Urussanga partiu rumo a Itália, em 1991, para conhecer a cidade de Longarone. Essa comitiva era composta por algumas pessoas ligadas à política, como o prefeito da época Vanderlei Olívio Rosso, e o vereador Luiz Antonio Fabro, além de Névton e várias outras pessoas.

“No início foi muito difícil, confesso que foi difícil, porque muitos daqueles que não entendiam esse objetivo, esse pacto Urussanga e Longarone, diziam ‘ah o pessoal daqui vai pra lá para comer e o pessoal de lá vem pra cá para comer, para fazer festa’, comentou o ex-prefeito José Vânio Piacentini, que assumiu a administração de Urussanga em 1993, após o pacto ser firmado. Piacentini conta que, em 94, uma outra comitiva foi novamente a Longarone. “Começamos, assim, a ganhar confiança e ver que realmente o interesse deles era maior do que só a amizade e a aproximação da cultura. Eles queriam também que nós entrássemos em outros detalhes, e aí começamos a tratar, completa. “Foi caindo um pouco esse estigma de dizer que aqui era só comilança.

O programa Ponto de Encontro realizou uma entrevista especial com Ana Maria, Névton, Fabro, Piacentini, Rosa Miotello, Antonio Euclides De Lorenzi Cancelier, Ruberval Francisco Pilotto e Neusa Maria Bernadino Pereira. Ouça na íntegra:

 

A senhora Ana Maria Mariot não estava presente nos estúdios devido a problemas de saúde. Ela, porém, fez questão de conceder uma entrevista exclusiva gravada na sua residência. Acompanhe a participação completa no player abaixo:

 

Ambos ressaltam que o Gemellaggio não é apenas entre as prefeituras, mas sim entre duas cidades irmãs. “O nosso Gemellaggio não nasceu com a intenção de grupos particulares em quererem obter vantagens com isso. O nosso Gemellaggio já nasceu, como eu falei lá no fórum, nasceu da consanguinidade da história, da origem de uma comunidade inteira. Então, não fazem parte do Gemellaggio somente a administração pública ou mais uma outra entidade qualquer, não, frisa Névton.

Mais sobre a história, curiosidades e a importância do Gemellaggio serão abordados no programa Ponto de Encontro desta sexta-feira, dia 27. Será um programa especial com a participação de várias pessoas ligadas a história e cultura de Urussanga, além da participação do Coral Italiano Cantando Si Vá. Acompanhe na 99.9 FM, no YouTube e Facebook a partir das 10 horas.

Texto: Karine Possamai Della

Produção e edição: Gustavo Marques