Os discursos do Papa Francisco iam além da Igreja Católica, também representavam um embasamento sociológico e político. Para Vilmar Dal Bó, doutor em Ciências Econômicas e Políticas, os ensinamentos do Papa Francisco dão pistas de ação para construção de uma reflexão sociopolítica. Pensando nisso, Vilmar fez um estudo para entender o pensamento do papa e refletir como ele pode ser usado também na vida pública e na vida privada. Esse estudo originou o livro “A Teoria do Cuidado no Humanismo do Papa Francisco”. “O Papa Francisco, assim como outros pensadores, inaugura um momento de debate em que as relações humanas precisam ser repensadas dentro dos processos. E este livro, que, na verdade, é uma síntese de um processo de doutorado, então, traz elementos que ultrapassam as muralhas, os muros da fé, mas se torna um elemento possível de vivenciar em todas as esferas públicas e privadas”, destaca.
Vilmar relembra que, quando iniciou seu pontificado, Francisco afirmou que a igreja devia se assemelhar ou ter semelhanças a um hospital de guerra, ou seja, um hospital que acolhe os feridos. “O cuidado extraído dessa relação simbólica demostra que nós somos responsáveis na eclesiologia, mas também na vida social, no cuidado. Fala em empatia. Nós somos chamados a ter uma empatia, a cuidar do outro, mas em todas as relações que estão entorno a nós. Uma relação ambiental, é preciso cuidar do sistema socioambiental, da natureza, das fontes primárias; de cuidado social, cuidado com as instituições, cuidado com os processos; o zelo e o cuidado com o erário público, com o dinheiro público; o zelo e o cuidado com as políticas públicas para o desenvolvimento das crianças, dos jovens, dos adolescentes, o cuidado com os idosos, que não podem ser descartados, o cuidado com as famílias que precisam de lugares e serem acolhidas às suas dificuldades; o cuidado com os trabalhadores, com leis que protejam e favoreçam o exercício do trabalho digno”, avalia.
O doutor ainda comenta que, assim como Francisco, é necessário ter proximidade. “Encurtar as distâncias, encurvar-se à periferia, conhecer as realidades, facilitar o encontro, que é romper o individualismo, o egoísmo, o centralismo e estabelecer o diálogo. O diálogo que hoje está cada mais difícil”, diz. “Quando a gente fala de uma teoria à luz do Papa Francisco e aplicada à sociedade civil, à vida pública, ou até mesmo à iniciativa privada, nós estamos falando em um modelo de desenvolvimento socioeconômico e político de proximidade que vai rompendo o distanciamento e vai deixando as relações mais horizontais, e facilita o encontro. E facilitar o encontro é despir-se da condição do centralismo e universalizar as relações e diálogo, e conhecer que o outro tem algo diferente a dizer e, neste diferente, medir esforços para construir um ponto de consenso. Então, quando nós vemos, ultrapassa a empatia e cria-se realmente um modo de agir que facilita a convivência social. Então, eu acredito que esse papado traz e trouxe sinais e caminhos para resinificar as relações socioeconômicas e políticas”, pondera Dal Bó.
O autor do livro também salienta que Francisco complementou o que os outros papas já falaram: política é uma nobre vocação. “Se um pastor, um sacerdote, um ministro ordenado tem que ter cheiro de ovelhas, o líder público, o político, tem que ter cheiro de povo, cheiro de comunidade, cheiro de associação, cheiro de sindicato, cheiro de movimento e das forças vivas que constituem uma cidade, um grupo e um povo”, afirma. O assunto foi abordado com mais detalhes em entrevista com Vilmar Dal Bó n programa Ponto de Encontro. Confira:
Para Vilmar, com a morte de Francisco, o sentimento é de orfandade, seja dos católicos, como aqueles que não compartilham da mesma fé. “Essa orfandade justifica em uma figura pública, com valores muito sólidos, em uma ética universal, deu sinais claros para um novo modelo de desenvolvimento”, fala. “O Papa Francisco tem uma novidade tão grande que ultrapassa as paredes da sacristia, por isso que ele é um grande líder humanitário, um grande humanista, ele fala verdades que tocam, assim, nós, que professamos a fé católica, mas ele é aplaudido, aceito em sociedades mais duras, ou menos abertas ao catolicismo, inclusive aqueles que negam a fé, porque ele tem um conteúdo sócio-político e moral válido para todos”, comenta. “O resultado disso é um mundo comovido com a sua partida”, acrescenta.
A Teoria do Cuidado no Humanismo do Papa Francisco
O livro A Teoria do Cuidado no Humanismo do Papa Francisco reúne um conjunto de artigos publicados em congressos, simpósios e conferências, que têm como objetivo refletir o sentido do cuidado por meio de suas razões ontológicas e da importância da primariedade do cuidado à convivência social.
As reflexões contidas na obra situam-se à luz da proposta do humanismo integral do Papa Francisco, que compreende o cuidado como uma característica essencial do ser humano, frequentemente esquecida, e que deve traduzir-se em ações concretas para um pacto social e cultural de cuidado. O livro revela as motivações e as exigências do cuidado em face da cultura do descarte e do descuido que incide sobre a vida das pessoas.
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