Bem diferente da escrita normal e com o uso de símbolos específicos, é possível registrar, quase que em tempo real, uma fala, conversa ou discurso. Essa técnica é conhecida como taquigrafia, muito utilizada nas Câmaras de Vereadores, de Deputados, no Senado e nos Tribunais de Justiça. “Tem profissionais que são altamente especializados e que conseguem registrar debates com várias vozes ao mesmo tempo”, destacou Eduardo Trevisan Duarte, especialista em taquigrafia.
Em entrevista, Eduardo contou que, durante a faculdade de Engenharia Mecânica, passava por algumas dificuldades ao fazer os registros das aulas. “A minha mãe, que é professora, me falou da técnica e eu procurei a técnica para aprender para me ajudar na faculdade. Só que eu acabei gostando e me tornei um profissional. Fiz um concurso e me tornei um profissional e, consequentemente, professor depois”, explicou. Ouça a entrevista completa realizada com Eduardo no programa Ponto de Encontro:
Conforme Eduardo, a técnica consiste em traços geométricos, segmentos de retas e circunferências que representam os sons. “Por exemplo, a palavra sal: o L no final, na pronúncia, não é pronunciado com L, ele tem som de U. Então a gente vai usar o taquigrama, que é o traço referente foneticamente ao U. Por exemplo, se eu digo ‘vou votar nele’, eu não pronuncio o R no final. Então eu não vou taquigrafar esse R, eu taquigrafo o que eu ouço, e não a letra, entendeu? Então, se eu digo ‘dente’, ‘presente’, eu não vou usar o E, eu vou usar o traço que representa o som que foi pronunciado, o I. Então, o taquigrafo é um profissional juramentado, ele tem fé pública, tudo que ele fala, que ele registra, não pode ser contestado”, afirmou.
O especialista ainda destacou que a técnica possui algumas características. “Tu imagina uma bolinha pequenininha, tipo um mini círculo, representa o A. A bolinha um pouquinho maior representa o O. E assim vai, cada traço vai representando vogais, consoantes, etc.”, explicou. Por ser um professor juramentado, o taquigrafo está presente em órgãos públicos. “Agora, recentemente, a Câmara Legislativa do Distrito Federal fez uma sessão solene, a Câmara Federal também, para comemorar os 201 anos da taquigrafia parlamentar em solo brasileiro. Então, todos esses debates de discurso, todos estão registrados hoje nos anais das casas”, comentou Eduardo.
Eduardo também contou que o trabalho que mais o emocionou envolve os julgamentos, como o caso da Boate Kiss. “Eu trabalhei no Poder Judiciário um bom tempo e, como taquígrafo, trabalhei na Câmara de Porto Alegre também como profissional, e nessas horas a gente tem que deixar o lado emocional e ser racional, sabe? Para fazer o registro, né? Área penal sempre é muito, muito difícil taquigrafando, né? A gente tem que ser muito profissional na hora e fazer apenas o registro e não se envolver emocionalmente”, salientou.
Segundo Eduardo, uma das preocupações da profissão é a falta de novos profissionais. “Porque as pessoas procuram aprender quando abrem os editais. E nós estamos tendo um fenômeno, assim, sabe? Isso foi feito num congresso de taquígrafos: de cada dez taquígrafos que se aposentam, entra um no mercado. Então, só estão ficando os velhos? Não está tendo uma renovação, sabe?”, comentou. “Na taquigrafia a gente está com esse fenômeno de ter um concurso público com 80 pessoas escritas, com salários aí na faixa de R$ 15 mil, R$ 20 mil. Então é uma área que tem muito pouca gente interessada”, acrescentou.