O delegado regional de Criciúma, André Milanesi, falou sobre o caso da morte de Thamily Venâncio Ereno, de 23 anos, em entrevista à Rádio Marconi. Thamily morreu na última sexta-feira, dia 21, durante uma operação policial que visava o cumprimento de um mandado de prisão contra seu companheiro, Kauan de Oliveira Filastro, de 20 anos. Durante a operação, Thamily, que não era alvo da operação, foi atingida por um disparo de arma de fogo na cabeça. Ela chegou a ser socorrida e encaminhada ao hospital, mas faleceu horas depois. A jovem e Kauan estavam em um carro de aplicativo durante a operação, no qual o motorista não obedeceu a ordem de parada dos policiais e deu ré em direção à guarnição. Segundo o delegado, isso levou a uma agente de Polícia Civil realizar o disparo em direção ao veículo, no qual os policiais não sabiam que Thamily estava nele.
De acordo com André, Kauan estava sendo investigado pela Delegacia de Combate às Drogas, já que ele integra a facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC). Em fevereiro, a Polícia Civil realizou uma grande operação, sendo que a casa de Kauan e Thamily, em Nova Veneza, foi um dos alvos de busca e apreensão. “Nesta operação, o Kauan não estava em casa, mas foi apreendido vários objetos, anotações de tráfico, munição, objetos que indicam realmente que Kauan era envolvido com crime e, com base nessa apreensão e demais provas que a Polícia Civil obteve, foi solicitada a prisão preventiva do Kauan, que foi deferida. O Poder Judiciário deferiu a prisão de Kauan, e a operação de sexta-feira passada, que infelizmente resultou na morte de Thamily, foi para dar cumprimento a esse mandado de prisão do Kauan”, explicou.
Segundo o delegado, na tarde de sexta, quatro policiais, em duas viaturas, estavam à paisana no bairro São Sebastião. A guarnição tinha a informação de que Kauan frequentava a casa do pai, que fica no bairro. Em determinado momento, o suspeito chegou ao local em um Fiat Siena preto. “O Kauan desce do banco do caroneiro do veículo, o banco da frente, entrega um objeto na casa e quando ele retorna para o veículo, os policiais entenderem que aquele seria o momento oportuno para cumprir a prisão, seria o momento que seria mais difícil de fugir. Então os policiais vieram, uma viatura se posicionou na frente do veículo, trancando a rua pela frente, e outra viatura se posicionou na parte de trás do carro, trancando a parte de trás. Os quatro policiais desceram, todos armados, dando ordens de parada, dizendo que eram policiais, mandando o motorista parar e o Kauan descer do carro”, contou.
O delegado ainda relatou que os policiais que estavam na frente do carro perceberam que, além de não obedecer as ordens, Kauan ordenou o motorista para que fugisse. Além disso, segundo André, os policiais notaram que Kauan bateu o celular contra o painel do carro, com objetivo de destruir o aparelho. “Isso mostra que tanto Kauan quanto o motorista precederam, sabiam naquele momento que se tratava de polícia”, disse. “Esse motorista, ao invés de acatar a ordem dos policiais, desligar o carro, descer do carro e aguardar fora, ele optou por dar marcha ré e jogar o veículo em cima dos policiais que se aproximavam por trás. Então, a policial civil, que foi obrigada a efetuar o disparo, ela se viu encurralada entre a viatura, que estava estacionada, e um barranco ao lado da rua, e o carro desse motorista vir na direção dela. Foi tudo muito rápido, questão de segundos”, completou.
Milanesi salientou que os policiais não sabiam que Thamily estava no banco de trás do veículo. “Esse tiro, tem que ficar bem claro, não era destinado nem para atingir o Kauan, não era para atingir o motorista e muito menos a Thamily. Até então ninguém sabia que ela estava no banco de trás. Foi uma infeliz coincidência, um acidente trágico que, infelizmente, ocorreu, mas que foi baseado numa legítima defesa dessa policial”, pontuou. O assunto foi abordado com mais detalhes em entrevista na Rádio Marconi. Entenda:
Além da prisão preventiva de Kauan, o motorista recebeu voz de prisão por desobediência e homicídio tentado, segundo André. “Esse flagrante, o Poder Judiciário e Ministério Público confirmaram o entendimento da polícia, homologaram o flagrante, converteram a prisão do motorista em preventiva, até porque esse motorista já tinha feito um crime similar, tempos atrás, em que ele jogou o carro dele em cima de outro carro, que estava com pessoas dentro, tempos atrás, botando em risco a vida de outras pessoas, e agora esse motorista está preso”, explicou Milanesi. “Foi um evento trágico. A Polícia Civil sente muito pela parte da família, desejamos aqui manifestar nossas condolências e pêsames a todos os familiares e amigos, mas o fato ocorreu, no nosso entendimento, principalmente devido à desobediência do motorista em não parar, o dolo dele em tentar matar ou atropelar a policial, ter jogado o carro em cima, e também pelo fato do Kauan, que sabia que era investigado, sabia que é criminoso, que está fazendo besteira, não ter se rendido”, acrescentou.
Ainda sobre o motorista, o delegado contou que, nessa ocasião, a corrida para o casal não foi realizada por aplicativo. “Ele teria alegado que conhecia o casal já há um tempo e fazia corridas particulares”, disse. “A gente acredita e suspeita que esse motorista pudesse fazer algumas corridas, viagens ilícitas para o Kauan, por isso que os celulares deles foram apreendidos e depois, após a quebra de sigilo e análise inicial dos celulares, a gente vai poder verificar de fato qual é a relação entre o motorista e o Kauan”, avaliou. O delegado ainda comentou sobre a relação de Thamily, que cursava Odontologia, com Kauan. “A Thamily, infelizmente, é uma mulher de 23 anos, universitária, com toda a consciência que ela deve ter, ela decidiu por conta própria viver com um marginal”, disse. Conforme o delegado, na casa do casal, a polícia encontrou um caderno com anotações do tráfico com “uma grafia bonita, que a gente acredita que foi feita por uma mulher”. “Possivelmente ela usufruía, ela vivia do proveito da atividade criminosa do Kauan”, falou o delegado.