A garantia da inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD) não depende somente de alterações arquitetônicas, mas também da criação de oportunidades para que se consiga a independência. Essa é uma constatação de Mário Sérgio Rodrigues Ananias, gestor público, ativista da causa PcD há 40 anos e autor do livro “Sobre Viver com Pólio”. Em entrevista, Mário destacou que essa independência se dá através do acesso à escolaridade, ao trabalho e também do lazer. “As pessoas, no geral, precisam entender que a deficiência não pode definir uma pessoa, ela é uma pessoa independentemente de sua deficiência”, ressaltou o especialista.

Mário frisou que a falta de acessibilidade em espaços públicos não pode mais ser justificada atualmente. “Não só as pessoas com deficiência, mas também as pessoas idosas eventualmente vão necessitar de espaços com melhor acessibilidade”, comentou. “As pessoas precisam ter esses acessos para que se sintam vivos, para que se sintam integrantes da sociedade, participantes de um processo de crescimento, de inauguração de uma vida melhor, não só para pessoas com deficiência, mas para todas as pessoas, inclusive aquelas que eventualmente possam ter deficiência ainda que temporárias. A gente tem que pensar no mundo acessível, no mundo que dê qualidade de vida a todas as pessoas”, complementou.

O assunto foi destaque em entrevista no programa Ponto de Encontro com Mário Sérgio. Ouça na íntegra:

 

O especialista ainda destacou que o Brasil possui leis que podem ser melhoradas. Um exemplo é a determinação exigindo que empresas contratem um percentual de PCDs. “Porém, é importante dizer que as pessoas com deficiência, hoje no Brasil, um número significativo de mais de 50% dessas pessoas não têm o acesso inicial, que é acesso ao estudo, a qualificação. Sem isso, não adianta que as empresas ofereçam a oportunidade, se essas pessoas não estão prontas para usufruir dessa oportunidade”, explicou.

Autor do livro “Sobre Viver com Pólio”, Mário adquiriu o vírus da poliomielite aos seis meses de vida. Mesmo tendo sido erradicada no Brasil, muitos adultos ainda possuem sequelas do vírus. Porém, a doença está longe de ser extinta no mundo, já que há ainda países com o vírus. Por isso, a vacinação contra a pólio acontece no Brasil, para que ela não seja inserida novamente. Para Mário, o fato de que as atuais gerações não tenham contato com a doença faz com que o problema seja distante. “Isso faz com que também muitas pessoas não se interessem pelo problema, porque não conhecem, não sabem da existência. A volta da poliomielite seria uma coisa horrível para o Brasil”, comentou.

Segundo Mário, o vírus se instala na coluna vertebral e, dependendo do ponto, pode causar problemas sérios nas pernas e braços, além do sistema respiratório, podendo matar a pessoa. “É uma sequela que nós vamos levar para o resto das nossas vidas e a gente não gostaria, em absoluto, que as nossas crianças tivessem que passar pelo o que passamos. Essa convivência faria, de certa forma, que as pessoas entendessem, mas seria muito melhor que a poliomielite fosse só um tema de filme, ou um tema de novela, uma referência a coisa do passado que nunca mais vai voltar”, frisou.

O livro de Mário, “Sobre Viver com Pólio”, pode ser encontrado em sites on-line de vendas.

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