Nas últimas semanas, as redes sociais de muitas pessoas foram bombardeadas por um tipo de conteúdo específico: a febre dos bebês reborns. Esses bebês são bonecos produzidos para se parecerem com crianças de verdade. Apesar de ser uma brincadeira para alguns, os relatos das redes sociais mostram pessoas que tratam os bonecos como seres humanos reais, destacando um lado para a saúde mental. Para o psicólogo Alex Cambruzzi, essa febre por bebês reborns pode ser considerada multicausal. “A gente tem aqui uma confluência de detalhes e que vão revelar para gente coisas positivas e coisas que talvez necessitem um pouco mais de atenção, sob o ponto de vista até de saúde pública”, diz.

O primeiro ponto destacado por Alex é entender que existe o fenômeno de consumo também. “Nós temos muitos influencers, muitos fabricantes extremamente interessados e identificando um nicho de mercado bastante lucrativo no momento, e que fazem com que esse assunto fique reverberando, fique monetizando para gerar ainda mais capitalização, um valor maior e compra de uma certa maneira até impulsiva”, comenta. O psicólogo afirma que até vídeos que causam estranheza têm a intenção de gerar mais monetização. “Precisamos entender antes de tudo que a gente está em frente a um momento onde tem um nicho de mercado sendo extremamente explorado. Essa para mim é uma primeira camada que eu acho que a gente tem que dar uma atenção”, alerta.

O conhecido efeito manada também é citado pelo especialista como um ponto para entender a febre dos bebês reborns. O psicólogo explica que esse efeito é definido como seguir as ações de um grupo. Um exemplo disso foi o aplicativo Pokemon Go, que foi febre em 2016. Na época, milhares de pessoas jogavam, mas, depois de um tempo, o jogo “caiu no esquecimento”. “O bebê reborn é algo que está dentro desse efeito manada no momento”, afirma. O assunto foi abordado com mais detalhes em entrevista com o psicólogo Alex no programa Ponto de Encontro. Ouça mais na íntegra:

 

Além desses fatores, Cambruzzi salienta que existe os detalhes de ordem psicológica que merecem atenção. “Os bebês reborns tem essa característica onde, tanto sob o ponto de vista de textura, quanto de expressões que ele possa fazer, mimetizam muito o comportamento humano e, isso para nós, humanos, gera uma enorme identificação e aproximação”, esclarece. “Até aqui a gente está nas camadas talvez mais saudáveis. Mas vamos ampliar um pouquinho mais aqui para talvez uma disfunção que começa a preocupar. Infelizmente, a gente também está vendo que algumas pessoas que não elaboram muito bem as emoções acabam encontrando nesse fenômeno um lugar onde podem canalizar energia. O que a gente quer dizer com isso? Às vezes você tem uma carência, às vezes você tem um processo de luto mal elaborado, você tem ali diversas situações que revelam uma não congruência interna, uma não estabilidade emocional e onde esses comportamentos podem acabar encontrando nesse bebê uma maneira de serem canalizados, manejados, expressados”, destaca.

Porém, Alex frisa que o bebê reborn não é visto somente com o lado negativo. “Ele é utilizado em diversos contextos clínicos também como forma de tratamento”, afirma. “Por exemplo, pessoas que têm Alzheimer, ele é um auxiliar; pessoas que têm algumas configurações de ansiedade elevada; pessoas que têm um déficit intelectual em alguns contextos de psicologia clínica; tratamento de saúde mental; terapia ocupacional, o bebê vai fazer parte, ele é um instrumento muito saudável de ser utilizado, ele possui um viés terapêutico. Então, a gente tem que separar que nós não estamos em frente a algo que é somente ruim, existem camadas aqui”, pontua o psicólogo.