O estresse é como se fosse um evento no qual a pessoa não tem controle e não consegue prever. Estar na rua e ser assaltado é um exemplo de um evento que a vítima não tem controle e nem previsão de acontecer. A definição é da doutora em Psicobiologia e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pesquisadora Deborah Suchecki. “O assalto acontece naquele momento e depois termina, mas, na nossa cabeça, a gente fica pensando nesse assalto por um longo tempo, e é isso que torna um evento único crônico, então a gente fica revivendo esse assalto por um longo período e aí é que está o grande problema do estresse. O estresse em si, o evento em si, ele pode ser um evento desconfortável, por ter uma ameaça à vida, mas ele termina, só na nossa cabeça que ele persiste”, exemplifica a especialista.

A violência urbana, incertezas de emprego e problemas de saúde são algumas situações que geram estresse nas pessoas. “Para o ser humano, os principais estímulos estressores são aqueles que envolvem relações interpessoais, problemas no ambiente de trabalho, questões de saúde própria ou de familiares, situações em que existe um julgamento de desempenho, por exemplo. Então, tudo o que envolve questões de autoestima e relações interpessoais são consideradas estressores mais graves para o ser humano”, esclarece a doutora. O assunto foi abordado com mais detalhes com Deborah no programa Ponto de Encontro. Ouça na íntegra:

 

De acordo com a pesquisadora, cada pessoa encara situações de estresse de forma diferente. Há pessoas que lidam com situações de estresse como se fossem desafios, no qual se sentem bem e felizes ao vencê-los. No entanto, há outras pessoas que já enfrentam consequências do estresse logo no primeiro evento que precisam lidar. “É muito provável que a maioria das pessoas enfrente esses estressores de forma inadequada. Aí elas têm consequências também graves, tanto para a saúde física quanto mental”, diz. Deborah reforça que alguns indivíduos podem desenvolver insônia, úlceras gástricas e até problemas reumatológicos, como artrite reumática e lúpus, por conta de eventos de estresse.

Existe uma relação muito grande entre estresse, ansiedade e depressão. Deborah destaca que os estudos indicam que pessoas com ansiedade lidam muito mal com situações de estresse, tendo, inclusive, alterações físicas muito exacerbadas. “Os sistemas biológicos que respondem ao estresse, como, por exemplo, a adrenalina, que aumenta os batimentos cardíacos, o cortisol, que cronicamente traz muitos prejuízos para a saúde física e mental, nesses indivíduos que já são ansiosos, essas respostas são exacerbadas. A regulação dessas respostas também é ruim. Então, o indivíduo libera muito hormônio, mas ele também demora muito tempo para voltar ao estado natural dele, o estado que a gente chama de estado basal”, pontua.

Vários pesquisadores, incluindo Deborah, têm atuado em entender as questões da saúde mental com o sistema imunológico. “Indivíduos que apresentam depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, têm um aumento de marcadores inflamatórios. É como se o organismo estivesse em um estado inflamatório permanente, e essas substâncias inflamatórias conseguem atravessar uma barreira que protege o nosso cérebro e elas invadem o cérebro em algumas situações, aumentando também a inflamação do cérebro”, esclarece. Segundo a doutora, o que se sabe é que a inflamação cerebral é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como o Parkinson e o Alzheimer. Outro ponto importante é que o estresse crônico prejudica o sistema imunológico por conta do aumento do cortisol, fazendo com que a pessoa fique mais suscetível às infecções.

O estresse pode ser equilibrado com atividades que geram prazer e satisfação pessoal. No entanto, Deborah salienta que não existe uma vida sem estresse. “O que nós precisamos fazer é tentar encontrar maneiras de equilibrar esses eventos que alteram a nossa vida. Algo que é muito bom para o ser humano é o contato com pessoas queridas, sejam pessoas da família, amigos. Essa busca pelo contato social traz muito equilíbrio para a vida da gente, muito, porque existem hormônios que são liberados durante esses contatos e que quase que têm uma ação oposta à ação do cortisol, que pode ser prejudicial. Então, esse hormônio que se chama ocitocina é um hormônio liberado quando temos contato com pessoas queridas. Quando buscamos apoio social e recebemos apoio social, a ocitocina é liberada e ela reequilibra o nosso organismo. Isso vai depender muito de cada um, o que traz prazer, se é esporte, se é pintar, fazer alguma atividade manual”, reforça.