Pessoas com ideações suicidas costumam emitir sinais no comportamento que servem de alerta para quem convive com ela. A psiquiatra Fernanda Bora destaca que as estatísticas mostram que o suicídio é a segunda causa de morte não natural no Brasil, ficando atrás de acidentes de trânsito. “O pensamento de morte pode surgir em qualquer momento da vida. Mas o pensamento de tirar a própria vida significa que algo não está funcionando direito no cérebro. Tem alguma conexão que está sendo mal formulada”, comenta a especialista.

De acordo com a doutora, a depressão está ligada ao pensamento suicida. Fernanda explica que a depressão é como se fosse um óculos no qual a pessoa somente enxerga o preto e branco da vida. “A pessoa podia amar pizza, a felicidade da vida dela era final de semana, a família toda reunida, vinha o filho que está na faculdade, vem a nora, vem todo mundo, eles comem a pizza todos juntos. Na depressão, com essa lente preto e branco que aparece na frente dos olhos, aquela pizza não tem mais valor, não tem mais gosto. E aí a pessoa fica acreditando no quê? Que o tempo dela passou, que o que era para viver já se viveu, e entra em um modo muito negativista”, exemplifica a psiquiatra.

Para a doutora, “cão que ladra, morde”. “Comentou que ‘eu ando pensando sobre morte’, ‘eu já pensei besteira’, que normalmente tem muito medo da palavra, é para buscar ajuda especializada correndo”, destaca. As pessoas que convivem com alguém que apresenta esses sinais devem o acompanhar a todo momento. “Não deixa a pessoa sozinha, 24 horas de vigilância. Precisa ter alguém ao pé, alguém por perto, entra no banheiro para tomar banho junto, para qualquer coisa, não caia na basteira de dizer ‘mas, eu tô me sentindo melhor, vou ali na padaria e volto’, pode até ser verdade que a pessoa está se sentindo um pouco melhor e quer ir na padaria, mas indo na padaria ela pode ver uma árvore, e aquela árvore já trazer um pensamento negativo”, frisa Fernanda.

O assunto foi abordado em entrevista especial com a doutora Fernanda no programa Ponto de Encontro. Ouça e saiba mais sobre os sinais que uma pessoa emite, como ajudar, os fatores de risco, como proteger os mais jovens, o tabu na sociedade, onde buscar ajuda, entre outros. Confira:

Parte 01

 

Parte 02

 

Fernanda ainda comenta que um caso de suicídio pode impactar de três a cinco gerações na família. “Um suicídio de uma pessoa, a pessoa acha que está livrando os outros, mas afeta as gerações. O neto da pessoa que cometeu o suicídio tem risco aumentado duas vezes. Então se existisse 30%, vira 60%, é muito alto”, afirma. Conforme Fernanda, há vários estudos que mostram que a tentativa é feita em um ato de impulso, isso porque existem diversos casos em que a pessoa se demonstra arrependida em uma recuperação após uma tentativa. A psiquiatra ainda comenta que, em cinco anos de experiência na área, foram poucas às vezes que alguém disse não estar arrependido.

Se você ou alguém que você conhece está tendo pensamentos do tipo, busque ajuda psicológica ou psiquiátrica.