Com a época de verão, muitas famílias aproveitam o tempo para aproveitar as férias. Porém, o período representa um aumento no número de animais abandonados. Isso acontece porque muitas pessoas, em atos de irresponsabilidade, adotam ou compram animais que não podem cuidar, preferindo abandonar o animal do que ter o compromisso de cuidar dele durante as férias. A triste realidade não acontece somente na região, mas sim em todo o lugar.
Felizmente, existem diversas pessoas que lutam pela causa animal e cuidam deles, dando o carinho e amor necessários. Na região, a dona Maria dos Cachorros, de Urussanga, e a ONG Rede do Bem, em Cocal do Sul, são exemplos. Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a ONG Majuna Proteção Animal é referência no estado. A coordenadora do projeto, Raquel de Castro, possui um sítio em que cuida de cães, gatos, bois e vacas, cavalos, cabras, ovelhas, galinhas e coelhos. O programa Ponto de Encontro abordou mais sobre a história da ONG em entrevista com a protetora Raquel. Ouça:
Raquel conta que a sua paixão por animais veio desde criança, inspirando-se em seu pai. “Ele era militar e trabalhava na área de animais, de treinamento para animais, e ele tinha compaixão. Por isso eu gosto muito de falar com os pais e mostrar que eles são exemplos para as crianças”, ressalta. “Meu pai me levava na rua com uma sacola de medicamentos e a gente saía para medicar cães de rua. E hoje eu tenho meus três filhos envolvidos na causa animal desde pequeninhos. Então eu acho que o exemplo que a gente passa para os filhos é a coisa mais importante”, completa.
A paixão de criança resultou em um propósito ainda maior. O projeto de Raquel iniciou ainda quando morava em São Paulo, em uma casa alugada, onde funcionava uma antiga clínica veterinária. “Ela tinha sido fechada pela prefeitura por algumas coisas erradas, e ali ficou alguns animais abandonados, e quando eu aluguei a casa eu passei a cuidar deles”, conta. Por causa disso, as pessoas começaram a abandonar animais no local, onde Raquel cuidava de todos, nascendo ali mais responsabilidade pela causa.
Raquel se mudou para Porto Alegre, onde morava em uma casa em que cuidava de quase 30 animais. A partir daí, Raquel viu que era necessário criar de fato um projeto. Foi assim que nasceu a ONG Majuna, no qual ganharam de doação um sítio de dois hectares, onde cuidam de todos os animais abandonados. “A gente tinha uma despesa já de quase R$ 30 mil por mês, e nós não tínhamos como manter. Aí eu tive um sonho: vou montar uma clínica veterinária”, conta. A ONG conseguiu montar a clínica, onde fazem atendimentos a um baixo custo, fazendo castrações e atendendo animais resgatados, no qual toda a renda é destinada para os trabalhos no sítio.
Atualmente, o sítio cuida de 256 cães, 54 gatos, além de vacas, cavalos criolos, galinhas, e coelhos. “As pessoas compram o coelhinho para fazer aquela cena de Páscoa, e aí depois o coelhinho roeu o fio da internet, roeu o fio da TV, o fio do computador, o sofá, e aí eles abandonam”, comenta a protetora. Todos os animais do sítio são castrados, vacinados e recebem acompanhamento veterinário diariamente. “Eu gosto de deixar isso bem claro para as pessoas entenderem que existe diferença entre o protetor de animais e o acumulador de animais. O protetor de animais sempre age de forma responsável, trazendo todo o bem-estar”, frisa.
Raquel fala que o período da pandemia da Covid-19 foi difícil para ela. “A gente recebia notícias de pessoas dizendo um familiar morreu, o tio, a tia, o avô, a avó, a mãe, a irmã, a cunhada morreu de Covid, a família estava desestruturada, tinha pessoas hospitalizadas e os animais não tinham com quem ficar. Esse foi o momento mais difícil que eu passei nesses 12 anos que eu tenho de proteção animal”, disse Raquel. A protetora ainda comenta sobre a época de férias, no qual os meses de dezembro, janeiro e fevereiro são a época de maior abandono de animais. “Existem tantas soluções para isso. Primeiro é olhar eles como alguém e não como algo”, reforça.
Hotéis e estabelecimentos que aceitam animais são parte da solução. Raquel ressalta que quando as famílias programam as férias elas programam os gastos, veículo, alimentação e outros fatores. “Tem que colocar o valor do pet, nós temos um pet, a responsabilidade é nossa”, comenta. O sítio da ONG também hospeda animais de famílias que viajam, no qual o valor da hospedagem também auxilia no cuidado dos animais resgatados. “Quando eles entregam o animal para a gente ele está apavorado, ele está amedrontado, já se sentindo abandonado. Quando a gente devolve o animal para o tutor, eles estão felizes, agitados”.
Em todos os anos que o projeto existe, diversos casos de maus-tratos foram registrados. Raquel fala sobre quando recebeu a informação de que um cão estava acorrentado em uma garagem há muito tempo, tanto tempo que a corrente acabou entrando na pele do cachorro. “A gente descobriu que ele foi acorrentado com quatro meses de idade, e o cão tinha cinco anos. Esse foi o caso mais triste que a gente teve”, conta. A corrente estava tão profundo na pele do animal que foi necessário fazer eutanásia no cachorro, porque não tinha como tirar a corrente do corpo dele.
Um dos trabalhos que a ONG preza também é pela educação. O assunto é abordado nas escolas de Porto Alegre, no qual é ensinado para as crianças que elas tenham responsabilidade ao cuidar de um animal. “Não dá e não precisa esperar para um protetor ou uma ONG fazer alguma coisa. A gente tem que fazer um pouco, cada um fazer um pouco”, destaca. “Eu sempre digo que bem-estar animal é saúde pública, tu está protegendo a sua família também. Bem-estar animal é saúde pública. Quando a gente cuida dos animais, a gente cuida da nossa família, da nossa rua, da nossa vizinhança, a gente cuida de toda a sociedade”.
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